Warner/DC tenta alcançar o público feminino com Supergirl

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Quando a CBS liberou o primeiro trailer de sua nova série baseada na personagem Supergirl, da DC Comics, dois pensamentos me vieram à cabeça: 1) quem em sã consciência libera um trailer de uma série de TV com quase 7 minutos de duração? 2) Isso está com uma tremenda cara de Smallville (série da Warner que durou 10 anos e mostrou como o jovem Clark Kent se tornaria o Superman) para meninas. Depois do “vazamento” do piloto (sim, entre aspas mesmo, porque o número de episódios-piloto que anda vazando ultimamente dá muito a entender que isso tem sido proposital), o segundo pensamento se manteve relativamente firme. Pelo menos em seu episódio piloto, Supergirl parece-se muito com Smallville, ainda que menos voltado para o público feminino do que o trailer deixa transparecer. Ao contrário de The Flash – que tem essa mesma semelhança -, Supergirl parece algo feito meio às pressas e, pelo menos pelo que mostra o piloto, não deve ter uma vida longa na TV.

O episódio começa de maneira bem didática, explicando detalhadamente o passado da personagem, ainda que alguns detalhes sejam praticamente de domínio público. O planeta Krypton estava condenado e, pouco antes de sua explosão, Kal-El, o futuro Clark Kent/Superman, foi colocado em uma nave e enviado à Terra onde, duas décadas depois, se tornaria o maior herói do planeta. Ao mesmo tempo, sua prima Kara, então com 13 anos, também seria enviada para lá com o intuito de proteger o jovem Kal-El. Enquanto a nave de Kal segue seu trajeto sem problemas, aquela com Kara se desvia e ela é enviada à Zona Fantasma, um setor do espaço para onde os criminosos de Krypton eram enviados e que seria, tecnicamente, à prova de fugas.

Anos depois, um fenômeno não explicado faz com que a nave de Kara escape da Zona Fantasma e finalmente chegue à Terra, onde ela encontra seu primo mais famoso, já adulto e com total domínio de seus poderes. Kara (Melissa Benoist, de Glee e Whiplash, 2014) é entregue então a uma família adotiva, os Danvers, e cresce com plena consciência de seus poderes e de que deve mantê-los em segredo. Aceleramos um pouco e, cerca de uma década depois, Kara é uma frustrada secretária na CatCo, um conglomerado de mídia comandado com mão de ferro por Cat Grant (Calista Flockhart, a eterna Ally McBeal). Kara sente que não está explorando todo o seu potencial, a exemplo de seu primo, mas é sempre desencorajada de tal ideia por sua irmã adotiva Alex (Chyler Leigh, de Grey’s Anatomy), uma bioengenheira que diz temer pelo futuro de Kara caso sua verdadeira natureza seja revelada. Quando o avião em que Alex está viajando sofre uma pane e ameaça cair sobre National City, Kara resolve usar suas habilidades adormecidas e começar a jornada de heroína que acredita estar reservada para si.

Isso tudo acontece nos primeiros 17 minutos do episódio, o que dá aquela impressão de coisa feita às pressas. Daí pra frente, o episódio pisa um pouco no freio, mas o roteiro não ajuda e, além de alguns buracos bizarros, abusa de uma série de clichês aos quais todos estamos acostumados em séries do gênero, na qual uma série de coincidências – como o fato de o mesmo acidente que tirou a nave de Kara da Zona Fantasma também permitir que a nave-presídio Forte Rozz, contendo alguns dos mais perigosos criminosos do universo, não só saísse da Zona Fantasma como caísse na Terra – se sucede. Até mesmo a revelação no final, que deveria ser surpreendente e o principal motivador para a série, não surpreende e, sinceramente, faz pouco sentido, além de retornar o pior clichê de qualquer história em quadrinhos: o vilão com ambição de domínio mundial e que, de alguma forma, tem uma ligação íntima com a protagonista da série.

Desde o lançamento de Arrow, a DC/Warner vem tentando construir um universo DC nas telas de TV, a exemplo do que a Marvel tem feito no cinema. Arrow e The Flash, as primeiras séries dessa iniciativa, têm alcançado bons frutos e deram origem até mesmo à uma série derivada, Legends of Tomorrow, com estreia prevista para 2016. Já Constantine, apesar das boas tramas, não obteve o mesmo sucesso e acabou cancelada após apenas uma temporada de 13 episódios. E esse deve ser o mesmo destino de Supergirl, caso seus produtores e roteiristas não encontrem o tom adequado rapidamente.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Oi, Marcelo, beleza? O que acontece é que os produtores das séries descobriram um meio rápido e barato de fazer testes com seus produtos: deixar vazar na rede. Depois é só verificar as análises e mudar para agradar mais. Assisti ao episódio piloto e não é de todo ruim, os elementos já foram colocados: a revelação para o mundo, vilões para enfrentar, aliás ela já tem uma galeria pronta de 'monstros da semana' pela frente e o interesse romântico. Como você disse, as cartas são colocadas todas na mesa em uma jogada só. Se tiverem algo escondido e que renda um bom desenvolvimento para os episódios, beleza. Constantine só não foi a frente por terem colocado no lugar errado (nbc), dia errado e não terem respeitado a essência do personagem.

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