por Marcelo Seabra
Admirado pela forma como vive personagens diferentes, até bizarros, Johnny Depp mostra mais uma vez sua enorme capacidade de se envolver num trabalho, sumindo na figura interpretada. Mas o dedo podre que tem usado para escolher seus projetos volta a atacar e Mortdecai: A Arte da Trapaça (2015) é mais um a desperdiçar o seu talento. Com piadas sem graça e repetidas à exaustão, o filme cansa, não consegue divertir e se torna um constrangimento para os envolvidos. E já é um dos grandes fracassos de bilheteria do ano, faturando metade de seu orçamento de 60 milhões de dólares.
Como roteirista, David Koepp alterna resultados péssimos (como o último Jack Ryan), medianos (como Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, 2008) e muito bons (como os primeiros Homem-Aranha e Missão: Impossível), com raros momentos de brilhantismo (como O Pagamento Final, 1993). Já como diretor, ele tem coisas boas (Efeito Dominó, de 1996, Ecos do Além, de 1999), mas é responsável por uma das piores adaptações de uma história de Stephen King, A Janela Secreta (de 2004). E foi exatamente nesse filme que ele trabalhou com Depp. Agora, eles se reúnem para a adaptação da primeira das histórias de Kyril Bonfiglioli, falecido escritor inglês que exercia várias ocupações e as usou como inspiração para seus textos.
Protagonista em três livros completos de Bonfiglioli e um deixado pela metade, Charlie Mortdecai é um aristocrata de muitas habilidades, e não necessariamente as emprega para o bem. Quase que um Tom Ripley em tom farsesco, o sujeito é um bon vivant de família rica, com boa educação, uma bela e inteligente esposa (Gwyneth Paltrow, de Homem de Ferro 3, de 2013) e um fiel escudeiro (Paul Bettany, o Visão de Vingadores 2) que está sempre se metendo em roubadas pelo patrão. Mortdecai compra e vende arte, mas frequentemente se envolve em negócios ilícitos, financiando seu alto padrão de vida. Quando o filme começa, descobrimos que ele tem uma dívida enorme com o governo e se vê obrigado a ajudar um agente do serviço secreto britânico (Ewan McGregor, de O Impossível, 2012), seu conhecido de faculdade com quem nunca se deu bem.
Viajando pelo mundo, a produção tem um ar globalizado, o que permite complicar a trama espalhando personagens. Se era essa a intenção, não deu certo, pois só torna a experiência mais chata, criando uma falsa sensação de algo intrincado e ganhando alguns minutos a mais de projeção. Umas poucas piadas funcionam, mas não são o suficiente para sustentar mais de 100 minutos, e não compensam pelas outras, ruins. Nem é bom mencionar o bigode. É bom Johnny Depp voltar a escolher bons filmes, ou logo estará no mesmo buraco que Nicolas Cage.
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Seabra, sério que você não gostou de A Janela Secreta (2004), ainda que não conheça a obra original, achei o filme sensacional, tenso, e muito bem construindo (john turturro está muito bem no papel)
E olha que sou fã de Stephen King! Nem assim deu pra engolir, a história é muito forçada, tudo é muito clichê.