por Marcelo Seabra
Num drama que tenta ser engraçadinho e acaba ficando sem um tom definido, Aniston interpreta uma mulher que, após um acidente, passou a sofrer de uma dor crônica na coluna que a impede de ter uma vida normal. Até andar de carro se torna uma experiência aterradora, e dirigir, nem pensar! Claire freqüenta um grupo de auto-ajuda para pessoas com um problema similar, e nem eles se mostram receptivos para a chatice e grosseria da personagem. A obsessão por uma colega falecida do grupo faz com que ela dê uma movimentada em sua rotina deprimente. Essa vida ruim a torna uma versão piorada do Chandler de Friends, alguém que faz piadas maldosas e não se importa em atacar os demais, ou criar situações embaraçosas em grupo.
Fazendo cara de dor ou incômodo o tempo todo, a atriz abriu mão da maquiagem na tentativa de dar mais veracidade à sua sofrida Claire, além de algumas cicatrizes. Mas isso não chega a ser compor um personagem, é apenas incômodo depois de algum tempo. Algumas situações exageradas não contribuem e o roteiro de Patrick Tobin parece não caminhar em nenhuma direção. Algumas informações sobre Claire são reveladas ao longo da projeção, mas não a tornam menos irritante. O elenco de apoio, que conta com Anna Kendrick (de Caminhos da Floresta, 2014) e Sam Worthington (de Sabotagem, 2014), está correto, e o destaque é a mexicana Adriana Barraza (de Thor, 2011 – acima), que faz a empregada de Claire e a única pessoa que se importa realmente com ela, além do ex-marido (Chris Messina, de Ruby Sparks, 2012), mantido à distância.
O outro purgante que pode ser visto nos cinemas é Philip Lewis Friedman (Schwartzman, de O Grande Hotel Budapeste, 2014), um jovem escritor que aguarda o lançamento de seu segundo livro após o grande sucesso do primeiro. Se ele já era arrogante e egoísta antes, o pedaço de fama atingido o deixa intragável. Ele consegue afastar todas as pessoas à sua volta, começando pela namorada (Elizabeth Moss, de Mad Men – abaixo), que ele não cansa de maltratar. Um veterano midas da literatura (Jonathan Pryce, atualmente em Game of Thrones) é o único que consegue se relacionar com Philip, talvez por ser uma versão mais velha do próprio, um pouco menos intratável, mas igualmente difícil e isolado.
Cala a Boca Philip é interessante por ser um retrato perfeitamente possível de um escritor bem sucedido e do que o êxito pode fazer com ele. A estrutura também é curiosa, mesmo que tenha diálogos em excesso e canse um pouco. O diretor e roteirista Alex Ross Perry (de O Círculo Cromático, 2011) não se prende a Philip ao contar a história. Ashley e Ike revezam com ele a posição de protagonista, e sobra oportunidade também para Melanie (Krysten Ritter, de Breaking Bad), a filha de Ike, e Yvette (Joséphine de La Baume, de Rush, 2013), a antagonista francesa de Philip. É engraçado como esse gênio ruim faz com que a pessoa conquiste desafetos. Philip passa a criar atritos com diversas pessoas e as classifica como inimigos em potencial, sendo Yvette uma delas.
O resultado das obras mencionadas é bem diferente pela forma como cada um trata seu protagonista. Enquanto Cake é tão chato quanto Claire, a tendo como centro e problema principal, Cala a Boca Philip consegue retratar o sujeito como o babaca que ele é, reforçando o tanto que ele é diferente dos demais. É sim possível fazer um filme agradável com um protagonista antipático, como Cala a Boca Philip prova. Mas Cake mostra que é muito fácil errar a mão e ir pelo caminho errado.
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