por Marcelo Seabra
Publicado em 1981, o romance La Position du Tireur Couche, de Jean-Patrick Manchette, só veio a ganhar tradução para o inglês vinte anos depois, virando The Prone Gunman. Com roteiro de Don MacPherson (do fiasco Os Vingadores, 1998), Pete Travis (diretor de Dredd, 2012) e o próprio Penn, o longa nos apresenta a um time de assassinos que realiza missões importantes, para multinacionais que têm interesses a serem resguardados. Jim Terrier (Penn), um desses atiradores, mata um ministro do Congo e é obrigado a sumir. Buscando redenção, ele passa oito anos fazendo trabalho humanitário até que outros assassinos aparecem, mostrando a ele que fugir do passado não é assim tão fácil.
Nesse ponto, começa a peregrinação do personagem pelo mundo, passando por Londres e se demorando mais em Barcelona, cidade bastante explorada pela câmera. Tem espaço até para uma tourada, mesmo que isso não fizesse muito sentido para a trama. Os buracos e inconsistências do roteiro são mascarados por diálogos enrolados e situações mal explicadas. Sobra até oportunidade para longos discursos, uma chatice interminável. Quando os personagens estão armados, eles precisam gastar todas as balas para terem de sair no braço, numa tentativa vã de deixar as coisas mais divertidas. Cenas de ação maiores do que deveriam também não ajudam, fazendo o público perder o interesse. Fica a impressão que Robert Ludlum e outros mestres do gênero de espionagem forma inspiração, mas permanecem a anos luz de distância.
Como o protagonista, Penn corre, pula e faz tudo o que tem direito, trazendo um pouco de personalidade para um sujeito detestável, por quem não conseguimos ter simpatia em momento algum. Toda hora em que ele está em risco, não faz a menor diferença se ele se sairá bem ou não. Culpa do roteiro besta e formulaico, e não do esforçado intérprete. Sumido desde o desperdício de Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, 2013), com uma pequena participação em A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, 2013), o ator deve ter usado muito de seu tempo livre na academia. Há um certo exagero em mostrá-lo sem camisa, uma vaidade que agradaria a Will Smith.
Outro nome importante de O Franco-Atirador é Javier Bardem (de O Conselheiro do Crime, 2013 – acima), mas não tão bem sucedido quanto o colega. O espanhol é castigado com falas piores e passa por alguns constrangimentos, tudo muito previsível. O elenco ainda traz outros nomes competentes, como Idris Elba (o Heimdall de Thor), numa ponta minúscula, Ray Winstone (de Noé, 2014), que vive o mentor, e Mark Rylance (de Anônimo, 2011), grande ator do teatro que não tem como fazer muito. O interesse romântico que fecha o esquemático triângulo amoroso é Jasmine Trinca (de O Quarto do Filho, 2001), atriz mais famosa na Itália que traz um pouco de doçura para a tela.
Considerado o padrinho do Cinema de ação da terceira idade (ou quase), Morel dessa vez não foi tão feliz. Com aspectos técnicos bem cuidados, como edição e fotografia, ele derrapa mesmo é no texto, que não se fecha e não envolve o espectador. O Franco-Atirador, longe da genialidade de seu homônimo de 78, rapidamente se torna cansativo e o maior desafio é conseguir chegar ao final acordado. Muitos devem sucumbir.
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