por Marcelo Seabra
Pela terceira vez, Liam Neeson e Jaume Collet-Serra trabalham juntos em um longa de ação, e o resultado tem melhorado. Depois do fraco Desconhecido (Unknown, 2011) e do correto Sem Escalas (Non-Stop, 2014), o diretor assina Noite Sem Fim (Run All Night, 2015) e coloca seu astro para correr contra o tempo para salvar o filho. Apesar de uns tropeções e de não ser a coisa mais original que já vimos, a obra diverte o suficiente e desenvolve melhor os personagens que outras produções que Neeson anda estrelando.
Já virou piada a frase do protagonista da franquia Busca Implacável (Taken) a respeito de ter um conjunto de habilidades únicas. Afinal, tudo o que Neeson parece participar agora são variações de um tipo fodão de espião à James Bond, mas mais violento e cru. Tudo é resolvido na mão ou na bala, contando com a experiência do sujeito, após longos anos como mercenário, matador ou algo assim. Dessa vez, isso acontece em menor escala, mas não deixa de estar lá. E há um filho dele em risco, algo que já se mostrou extremamente perigoso – para os bandidos.
A história nos apresenta a Jimmy Conlon (Neeson), um amigo de infância que se tornou o executor do hoje chefe da máfia local, Shawn Maguire (Ed Harris, de Sem Dor, Sem Ganho, 2013). Bêbado contumaz e notório fracassado, Jimmy vive de pequenos trabalhos, sendo sustentado pelo chefe. O filho de Maguire, Danny (Boyd Holbrook, de Caçada Mortal, 2014), é mostrado como um imbecil que não acerta uma e não consegue deixar seu pai orgulhoso. Para isso, ele decide executar uns desafetos e o filho de Jimmy (vivido pelo novo RoboCop Joel Kinnaman) testemunha. O resultado da bagunça é Jimmy ter que contar para Shawn que, para salvar seu próprio filho, matou o do amigo.
Aí, começa a perseguição de todo o bando de Maguire aos Conlon, com a ação desenfreada acontecendo em apenas uma noite. Jimmy precisa usar suas habilidades especiais para salvar Mike, ao mesmo tempo em que precisa decidir se é isso mesmo que deve fazer. Afinal, o filho não tem contato algum com o pai, por reprovar as atitudes dele, e Conlon e Maguire são amigos de décadas, tendo passado por muita coisa juntos. Onde deve estar a lealdade? Será que a família vem acima de tudo? Questões como essas fazem com que Noite Sem Fim consiga atingir um pouco mais de profundidade que as outras aventuras que Neeson anda vivendo. Ponto para Brad Ingelsby, que demonstra uma melhora sensível desde que escreveu o equivocado Tudo Por Justiça (Out of the Furnace, 2013), drama que trabalha temas similares, mas com muito mais problemas na estrutura e no desenvolvimento do roteiro.
Neeson continua com seus trejeitos, tanto as caretas quanto o jeito trôpego de andar. Vê-lo em cena nos remete a Darkman (1990), com aquele carisma de quem não é exatamente popular, mas tenta ser simpático. Ed Harris parece estar debilitado em suas primeiras cenas, mas logo ele mostra o talento com o qual nos acostumamos. Ver o filho fazendo burradas em série e ainda ter que amá-lo é algo que lhe dói, e percebemos isso em seu olhar. O sueco Joel Kinnaman, revelado para o resto do mundo na série The Killing, continua dando seus pulinhos, mas não tem muita oportunidade de fugir do estereótipo do filho ressentido. O rapper Common, visto recentemente em Selma (2014), faz uma participação como um assassino incansável e Vincent D’Onofrio, o Wilson Fisk de Demolidor, tem uma ponta como policial. Um elenco interessante que consegue dar vida a uma trama intensa, filmada de forma criativa, que cumpre a missão de entreter por quase duas horas.
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