Marvel e Netflix fazem justiça ao Demolidor

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Conhecido do grande público pelo fiasco protagonizado nas telonas por Ben Affleck em 2003, o Demolidor é um dos personagens mais complexos da Marvel e finalmente recebe o tratamento merecido graças aos produtores Drew Goddard (de Lost) e Steven S. DeKnight (de Spartacus), além do ABC Studios, Marvel Studios e da Walt Disney Company, dona da Marvel. A presença da Disney, no entanto, não suaviza as coisas. Ao contrário do personagem caricato do filme de Affleck, o que vemos na série do Netflix é um justiceiro brutal, obstinado e preocupado em seguir seus próprios dogmas, por mais difícil que isso seja. Tudo isso em uma história muito bem construída e com toda a ação que se poderia esperar de uma série produzida por um dos criadores de Spartacus.

Baseada no personagem criado em 1964 por Stan Lee e o desenhista Bill Everett, a série Demolidor (Daredevil, 2015) é o primeiro resultado da parceria entre a Marvel Studios e o serviço de distribuição Netflix,  anunciada no fim de 2013 e que prometia expandir ainda mais o dito MCU (Marvel Cinematic Universe, ou Universo Cinematográfico Marvel). Mesmo sendo apenas a primeira da parceria, é seguro dizer que, como quase sempre, o Marvel Studios acertou mais uma vez. E eles já têm, em diversos estágios de produção, séries baseadas em personagens de segundo e terceiro escalões, como Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e os Defensores (que deve reunir esse pessoal) e ainda rumores sobre uma nova encarnação do Justiceiro.

Como não poderia deixar de ser, a primeira temporada de Demolidor é uma história de origem. Nela, vemos como Matt Murdock (Charlie Cox, de A Teoria de Tudo, 2014), ainda criança, é afetado após um acidente automobilístico que lhe tira a visão. Ao salvar a vida de um senhor que seria atropelado por um caminhão transportando produtos tóxicos, Matt tem seus olhos atingidos pelo tal produto. Ele fica cego, mas todos os seus demais sentidos se ampliam de uma maneira sobre-humana. Quase duas décadas depois, Matt e seu amigo de faculdade Franklin “Foggy” Nelson (Elden Henson, de Jogos Vorazes – A Esperança, 2014) decidem abrir um escritório de advocacia juntos em Hell’s Kitchen, bairro violento e pobre de Nova Iorque no qual ambos cresceram. Seu primeiro caso os leva a conhecer Karen Page (Deborah Ann Woll, da série True Blood). Karen é acusada de um assassinato e jura ser inocente.  Ao provar a inocência de Karen – com uma ajuda do alter-ego de Matt, então conhecido apenas como “o mascarado” – a dupla vai acabar se chafurdando em um caso de corrupção que vai até as mais altas esferas do poder no estado de Nova Iorque. O homem que eles precisam derrubar, no entanto, não cairá facilmente, pois é uma figura esquiva e impiedosa cujo nome poucos conhecem: Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio, de O Juiz, 2014).

Este é o resumo do que será visto na primeira temporada da série sem estragar as possíveis surpresas para aqueles que não estão familiarizados com o personagem. Todos os atores citados estão muito bem em seus respectivos papéis, com destaque para o vilão humano construído por D’Onofrio. A química entre a dupla de advogados é ótima, assim como as cenas de tribunal. E devem ser mencionados o James Wesley de Toby Leonard Moore (de John Wyck, 2014) e o Ben Urich de Vondie Curtis-Hall (de séries como Law and Order: Criminal Minds), que sempre chamam a atenção quando aparecem. E a bela Rosario Dawson (de Sin City: A Dama Fatal, 2014) também marca presença, vivendo uma enfermeira que acaba ajudando Matt.

Com relação aos demais aspectos, a obra segue o padrão de qualidade Marvel Studios com os quais nos acostumamos, seja no roteiro bem amarrado, bem dosado, com poucos furos, seja na parte técnica, com fotografia e iluminação adequadas e ação bem coreografada. E não faltam aquelas referências ao material fonte que fazem a alegria dos fãs dos quadrinhos. As cenas de luta, inclusive, são uma atração à parte. Desde Batman Begins (2005), não há uma produção com personagens de quadrinhos onde as lutas são tão brutais e orgânicas, com muito pouco da firula que se vê normalmente. O que condiz com o personagem, afinal, por mais que seus sentidos tenham se desenvolvido, Matt Murdock ainda é, em essência, um humano “normal”, se comparado a personagens como o Homem-Aranha e o Capitão América. Os desgastes pelos quais ele passa ao apanhar ou mesmo ao bater incessantemente são muito reais.

Com 13 episódios e promessa para uma segunda temporada, os episódios de Demolidor já estão todos disponíveis no Netflix, como é costume da empresa. Para aqueles acostumados com as produções da Marvel Studios e para os fãs do personagem, a série é essencial. E encontros com outros personagens não devem ser descartados, já que é possível ouvir menções rápidas.

O lançamento de Demolidor foi a sensação da Comic Con de NY

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Essa é a melhor série baseado em quadrinhos que assisti com temas urbanos complexos seguindo de forma respeitosa o trabalho que o genial Frank Miller fez com o personagem nos anos 80.Foi uma grata surpresa essa parceria Marvel/Netflix e espero que o meu personagem favorito (The Punisher) ganhe algo digno nessa mesma linha mantendo mais produtos de qualidade para nós!!!

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