por Marcelo Seabra
Depois de alguns anos aparecendo o suficiente para nos cansarmos dele, Will Smith deu uma sumida. Claro que o fracasso retumbante de Depois da Terra (After Earth, 2013), aventura à qual levou o filho junto, tem muito a ver com isso. Agora, ele lança um novo trabalho como protagonista, Golpe Duplo (Focus, 2015). E todas as atenções se viram para as bilheterias, para ver se Smith ainda tem o toque de Midas que o caracterizava do meio da década de noventa em diante.
Procurado sobre a questão financeira, o ator disse não ter essa preocupação, buscando apenas crescer como artista. Baseado nas primeiras semanas de exibição pelo mundo, pode-se dizer que a produção se pagou com tranquilidade e em breve deve dobrar seu orçamento. São mais de 73 milhões de dólares de arrecadação contra 50 de custo. Não foi o sucesso que alguns esperavam, tampouco um fracasso. E Smith parece controlar um pouco o seu ego, restringindo os momentos constrangedores que parecem existir em seus filmes apenas para agradá-lo, como cenas vestido parcialmente e closes desnecessários.
Escrito e dirigido pelos criadores da atípica comédia O Golpista do Ano (I Love You, Philip Morris, 2009), Glenn Ficarra e John Requa, Golpe Duplo acompanha as desventuras de Nicky (Smith), um golpista bem sucedido que comanda uma turma de mãos leves e artistas de todo tipo de trapaça. Acostumado a ganhar a vida perigosamente e correndo riscos dia após dia, ele sabe que não pode se envolver emocionalmente ou perderá o foco – título original do longa. E o problema na vida dele chama-se Margot Robbie, a beldade que roubou a cena de DiCaprio em O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013).
Mais discreto do que o usual, Smith consegue equilibrar carisma e um certo tom ameaçador para compor Nicky, o que funciona. E Robbie prova outra vez ser mais do que um corpinho bonito (ou seria um rostinho, ou os dois?), deixando que o filme use a sua beleza descaradamente para fazer o que os personagens fazem melhor: te enganar. Como já visto em diversas outras obras, a trama se constrói em alguns truques e o princípio fundamental dos pilantras é desviar a atenção da vítima, e Robbie serve bem a este propósito. A parceria do casal deve ter dado certo, eles já estão filmando o novo Esquadrão Suicida. Completando o elenco principal, temos o nosso Rodrigo Santoro, o Xerxes dos dois 300 e também de Golpista do Ano. Com um sotaque forte, ele dá seus pulos em Hollywood como um empresário argentino do ramo automobilístico.
O que faz com que Golpe Duplo não entusiasme é a natureza dos golpes. Enquanto alguns já são manjados, outros dependem de circunstâncias para acontecerem, e sai tudo certinho. E há outros ainda que não teriam como ser tão facilmente aplicáveis, o que tira um pouco da credibilidade. O resultado fica muito aquém de outros filmes com uma temática similar, como o já clássico Golpe de Mestre (The Sting, 1973) ou o mais recente A Cartada Final (The Score, 2001). Envolvendo jogos (sinuca, cartas etc), teríamos outros vários exemplos superiores, como A Cor do Dinheiro (The Color of Money, 1986) ou Cartas na Mesa (Rounders, 1998). Por isso, sem novidade, acaba ficando no meio, junto com milhares de obras medianas.
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