por Marcelo Seabra
Dois bons atores podem fazer a diferença em um filme. E é exatamente isso que segura Dois Lados do Amor (The Disappearance of Eleanor Rigby: Them, 2014), drama que propõe mostrar os dois pontos de vistas em uma relação conjugal. Não é das ideias mais originais, já que a guerra dos sexos é tema no Cinema desde os primórdios. Mas há um fato trágico no meio para complicar as coisas. O ritmo é lento e os diálogos são excessivos, combinação fatídica para uma sessão noturna.
Him e Her foram bem recebidos no Festival de Toronto, em 2013. O diretor e roteirista Ned Benson decidiu editar os dois longas, cada um com a visão de um do casal, e criar a soma dos dois pontos de vista, chamada Them. Nos Estados Unidos, todos os três passaram pelos cinemas, mas no Brasil só a versão resumida chegou. Um filme de 89 minutos junto a outro de 100 resultaram em uma obra de pouco mais de duas horas em que fica mais clara a forma diferente que um homem e uma mulher têm de lidar com determinadas situações.
Connor e Eleanor são ótimas oportunidades para James McAvoy (o jovem professor Xavier) e Jessica Chastain (de Interestelar, 2014) mostrarem seu talento. Ambos têm presenças marcantes em cena e utilizam o texto com segurança, mesmo que as ações de seus personagens não faça muito sentido. Principalmente no caso de Eleanor, que parece bem perdida, sem qualquer direção na vida. As aulas que começa a fazer, por exemplo, não têm função alguma a não ser ocupá-la – e trazer Viola Davis (de Os Suspeitos, 2013), sempre competente em cena. Outros nomes que completam o elenco são William Hurt (de A Hospedeira, 2013) e Isabelle Huppert (Amor, 2012), do lado da garota, e Ciarán Hinds (Circuito Fechado, 2013) e Bill Hader (de Homens de Preto 3, 2012), pelo rapaz.
Algumas pistas do que está acontecendo são jogadas aqui e ali e, talvez pelas coisas nunca ficarem cem por cento claras, é difícil para o público enxergar o casal como o roteiro pede. Esse distanciamento não ajuda a obra. E a diferença entre a forma que os dois reagem só não é óbvia para quem está envolvido – no caso, eles. É certo que cada um age de uma maneira em diversas situações, e nessa não seria exceção. Ned Benson peca por julgar que o que apresenta em Dois Lados de Amor é inédito. E tenta apimentar as coisas, digamos assim, alterando a ordem cronológica dos fatos, artifício hoje tão corriqueiro. E, falando em artifício desnecessário, pra quê usar uma canção dos Beatles (Eleanor Rigby, o nome da protagonista) se ela não vai servir para nada além de uma piadinha? O Michael Bolton de Como Enlouquecer Seu Chefe (Office Space, 1999) era muito mais legal.
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