Stephen Hawking vira personagem de Cinema

por Marcelo Seabra

O Cinema já gosta de contar histórias reais, de grandes personalidades. Se houver uma doença grave envolvida, então, fica impossível ignorar. A vida do físico Stephen Hawking era um prato cheio: uma das mentes mais brilhantes de todos os tempos presa em um corpo sofrendo uma degeneração constante e lutando contra uma expectativa de sobrevivência baixíssima. Pois finalmente ganhou a tela grande A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014), a adaptação do livro de Jane Hawking sobre sua jornada ao lado do marido.

Apesar de não ser nenhum novato no negócio, Eddie Redmayne tem aqui o seu primeiro papel de grande destaque. Entre seus principais trabalhos, estão Sete Dias com Marilyn (My Week With Marilyn, 2011), Os Miseráveis (Les Misérables, 2012) e a minissérie Os Pilares da Terra (The Pillars of the Earth, 2010). O próprio ator é provavelmente o principal motivo de A Teoria de Tudo ter ganhado tanto confete, e ele já levou o Globo de Ouro e aguarda o resultado de outros tantos prêmios aos quais foi indicado, incluindo o Oscar e o BAFTA. Sua interpretação de Hawking repete os menores maneirismos do cientista e representa o passo a passo do avanço da doença desde os detalhes mais simples. E a exigência física para manter os aspectos da degeneração deve ter sido tremenda.

Não muito atrás de Redmayne em competência está a colega Felicity Jones. Até então lembrada como a Felicia Hardy do Homem-Aranha mais recente, Jones também foi meticulosa ao criar sua personagem. Mas é complicado o fato de a personagem sempre estar lá, impávida e pronta a se sacrificar por Stephen. Isso acontece desde o início, quando a doença é descoberta. Sua luta para ajudá-lo e criar os filhos, além de se dedicar à carreira acadêmica, teria precisado de muito mais espaço. Ela acaba relegada a um segundo plano, deixando o foco todo para o gênio Hawking. Mas o roteiro de Anthony McCarten falha também nesse ponto ao não detalhar melhor o que está se passando, talvez com medo de entrar profundamente nos fundamentos da física e perder o público “não iniciado”. Ou de mostrar seu biografado como um ser humano com falhas, como qualquer outro. Se o filme apenas arranha a superfície nos dois casos, sobra apenas passar pontualmente por momentos importantes, pecado que a maioria das biografias comete.

Diretor de documentários interessantes e envolventes, como O Equilibrista (Man on Wire, 2008), James Marsh não parece ter ainda se encontrado na ficção. Seu longa anterior, inexplicavelmente chamado no Brasil de Agente C – Dupla Identidade (Shadow Dancer, 2012), é um drama correto e discreto que se contenta em seguir o rumo dos acontecimentos, sem muita tensão ou conflito. O pano de fundo é bem promissor, mas o resultado não sai da média. Assim como este A Teoria de Tudo. As ótimas atuações tanto dos protagonistas quanto dos coadjuvantes servem a um filme mediano, produto de um roteiro acomodado e uma direção que se contenta com um tapinha nas costas de “bom trabalho”. Um prato cheio para uma tortura ao estilo Fletcher (o professor de Whiplash, 2014).

Hawking derramou lágrimas ao se ver na tela

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Com tanto confete em cima desse filme, achei que só eu havia tido essa impressão.
    Também achei o filme, como um todo, mediano!

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