Teller e Simmons duelam pela perfeição

por Marcelo Seabra

O caminho rumo à perfeição não costuma ser fácil. Mas precisa ser excruciante? O sonho de estudar na escola mais prestigiada pode se tornar um pesadelo? Essas são algumas da perguntas para as quais o baterista estudante Andrew achará respostas, e elas serão bem desagradáveis. Whiplash – Em Busca da Perfeição (2014) é o longa que expande a ideia  que o diretor e roteirista Damien Chazelle já havia usado em um curta metragem de mesmo nome. Foi o sucesso do curta que atraiu investidores e permitiu a realização do longa, que vem recebendo elogios e indicações a prêmios por onde passa.

O curta de Chazelle foi premiado no Festival de Sundance em 2013, o mesmo que consagrou Milles Teller por sua atuação em O Maravilhoso Agora (The Spectacular Now, 2013). No ano seguinte, os dois se uniram e novamente coube a J.K. Simmons o papel do professor do conservatório musical que leva seus alunos ao limite, com abusos psicológicos e físicos, visando descobrir um novo Charlie Parker, o grande Bird. Até onde um professor deve ir para tirar de seus alunos o melhor? Quais métodos são aceitáveis? O mais interessante é que conseguimos conhecer os personagens e eles ganham contornos humanos, não estão ali apenas para servirem às necessidades do roteiro. O elenco de apoio inclui Paul Reiser, famoso pela série de TV Mad About You – Louco por Você, e Melissa Benoist (de Glee), e a presença de ambos na trama nos ajuda a entender Andrew melhor.

Grande destaque do filme, em meio a tantos acertos, é a atuação de J.K. Simmons. Não à toa, ele já levou vários prêmios, como o Globo de Ouro, e está indicado a tantos outros, como o Oscar e o BAFTA. Ele evita estereótipos ao compor uma figura que poderia facilmente cair numa caricatura. Ora duelando com Teller, ora cúmplice dele, Simmons dá aula de interpretação, indo de simpático a monstruoso em segundos, deixando claro desde o início que não seria uma pessoa tranquila de se relacionar. Teller é de fato músico, teoricamente deve ter sido mais simples acompanhar os esforços de seu personagem, facilitando para o diretor pegar um close das mãos frenéticas em movimento – mesmo que em alguns momentos seja um pouco perceptível que o som não combina com a peça da bateria tocada. E Simmons, ator e cantor, teve que aprender até como reger os músicos e as terminologias próprias do meio, e há curtas cenas dele próprio tocando.

Apesar da pouca experiência, Chazelle mostra que sabe aonde quer chegar, e seu interesse está na música. Seu primeiro longa, o desconhecido Guy and Madeline on a Park Bench (2009), era um romance estrelado por um trompetista, e ele ainda escreveu o roteiro de Toque de Mestre (Grand Piano, 2013), suspense sobre um pianista. Depois de falar sobre um baterista, ele segue com La La Land (2015), novamente com Milles Teller, agora como pianista, fazendo par com Emma Watson. Depois de Whiplash, qualquer coisa que Chazelle fizer merece crédito.

Fora das câmeras, os dois eram só amor

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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