por Marcelo Seabra
Tirando Interestelar e o novo Jogos Vorazes, os blockbusters que estão quase monopolizando as salas nacionais, os grandes destaques atuais nas bilheterias são improváveis patinhos feios. Nos Estados Unidos, o primeiro lugar é de Debi & Lóide 2 (Dumb and Dumber To, 2014), sequência da engraçada besteira de 1994 que reúne os atores e os diretores originais vinte anos depois. No Brasil, até pouco tempo atrás, a posição era de Drácula: A História Nunca Contada (Dracula Untold, 2014), fantasia que descarta quase tudo que se sabe sobre o personagem de Bram Stoker para colocá-lo como um herói amargurado que precisa salvar seu povo.
Depois de um longo período de desenvolvimento, inclusive com troca de estúdio e problemas de financiamento que quase afastaram os protagonistas, os irmãos Peter e Bobby Farrelly conseguiram dar nova vida a Lloyd Christmas e Harry Dunne. Os dois debilóides já haviam ganhado uma pré-continuação com elenco mais jovem e um desenho animado. Mesmo não tendo mais o frescor que mostraram no primeiro e em outros longas do início da carreira, como Quem Vai Ficar com Mary? (There’s Something About Mary, 1998), os Farrelly conseguiram se manter fiéis ao espírito dos palermas que criaram, mantendo a mesma estrutura de road movie e o mesmo tipo de humor.
Há alguns anos sem emplacar nenhum sucesso, Jim Carrey volta a viver Lloyd, que se junta a Harry (Jeff Daniels) para mais aventuras na estrada. Eles saem em busca da filha desconhecida de Harry, entregue para adoção, e continuam burros e irritantes como sempre. As conclusões a que eles chegam são as mais cretinas possíveis, o que gera algumas situações bem engraçadas. Há piadas de baixo nível, já que isso também faz parte do arsenal dos Farrelly, mas a maioria se apóia na inocência e na ignorância dos personagens. Eles fazem graça com as explicações absurdas sobre o buraco de vinte anos que não acompanhamos, há insinuações de homossexualismo e eles continuam tendo delírios cada vez mais reais, como os que Lloyd tinha com “Mary Sansonite”. Até o garoto cego do pássaro está de volta, agora mais velho e mais precavido contra os vizinhos. A forma que Harry encontrou para conseguir pagar o aluguel é hilária, e reparem no colega de quarto.
As principais adições para o elenco são razoáveis. A sumida Kathleen Turner (de Californication) mostra que sabe brincar consigo mesma, fazendo piada com sua forma física atual – a mesma estratégia usada em Friends. Laurie Holden (de The Walking Dead), Rachel Melvin (de Days of Our Lives) e Steve Tom (de Os Candidatos, 2012) formam a nova família da história, com o esforçado Rob Riggle como empregado, fazendo graça com uma batida trama de infidelidade e assassinato. Nada de novo, como se pode perceber, mas ainda assim tem seus momentos. Apesar do nome de Carrey ser utilizado com mais destaque, Daniels é tão bem sucedido quanto o colega na recriação do personagem e no timing cômico.
Também com bom resultado financeiro, mas nem tão interessante, é a nova encarnação de Drácula, nessa História Nunca Contada – talvez porque tenha acabado de ser inventada. Já que o uso de revistas em quadrinhos está na moda, este filme dá a nítida impressão de que se trata de uma adaptação de graphic novel, o que poderia explicar a transformação do personagem em um herói guerreiro que precisa descobrir como poupar as crianças de seu reino do rei turco, sendo que ele próprio foi “emprestado” pelo pai para o povo vizinho num estranho processo de aculturamento. Luke Evans, em alta atualmente por suas participações nas franquias do Hobbit e Velozes e Furiosos, vive Vlad, o príncipe que esconde um passado de chacinas e hoje só quer proteger sua família e seu povo. O ator é forte e carismático o suficiente para liderar a trama, ao contrário do vilão mequetrefe feito por Dominic Cooper (o Howard Stark do Universo Marvel), patético como um rei que deveria ser poderoso e admirado, mas está mais preocupado com sua barba estilosa.
Com uma maquiagem pesada, Charles Dance, o Tywin Lannister de Game of Thrones, é o vampiro ancião que pode ter uma saída para Vlad. Todas as regras são criadas para a ocasião, com o mero propósito de seguir o roteiro e atingir um final conveniente que supostamente conhecemos. Ou seja: pode-se mudar toda a história do personagem, contanto que no fim ele se torne o chupador de sangue sanguinário que conhecemos. A necessidade de torná-lo bonzinho é irritante, e os roteiristas estreantes Matt Sazama e Burk Sharpless tentam balancear mencionando o tal passado violento. O diretor Gary Shore, também em sua primeira experiência, não demonstra muita habilidade ao conduzir a produção, com cenas confusas numa geografia estranha.
Quem espera encontrar o trágico anti-herói de Bram Stoker vai se frustrar com a produção. O mesmo vai acontecer com quem busca embasamento histórico, querendo conhecer a verdadeira história de Vlad III, O Impalador, como o subtítulo pode erroneamente induzir. Há tantas produções sobre Drácula, recentes ou antigas, na TV e no Cinema, que é até estranha a insistência em querer contar sua história de forma diferente, ou inédita. Para conferir uma bela adaptação do livro de Stoker, a recomendação ainda é o definitivo longa de Francis Ford Coppola, de 1992. E há outras obras memoráveis a utilizarem vampiros, mas este novo Drácula não é uma delas.
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