por Marcelo Seabra
A exemplo do que acontece fora há anos, era hora de mais artistas brasileiros ganharem cinebiografias. E poucos têm uma vida tão marcante quanto Tim Maia, grande cantor e compositor muito lembrado pelas brigas, atrasos e ausências em shows. Apesar das confusões em que se metia, todos que o cercavam reconheciam seu talento e podiam prever desde cedo que ele iria estourar para a fama. Depois do elogiado musical teatral, essa história chegou aos cinemas, dramatizando os ótimos casos presentes no livro do produtor musical e jornalista Nelson Motta, amigo de Tim.
Ao contrário do que vimos em longas como Johnny e June (Walk the Line, 2005) e Ray (2004), nos quais havia ótimas interpretações e um roteiro um tanto confuso, ou esburacado, este Tim Maia (2014) consegue cobrir bem a vida do biografado, além de contar com atores muito competentes no papel principal. Quando mais jovem, Tim é vivido por Robson Nunes (de 2 Coelhos, 2012), quando ele ainda era o Tião Marmita, o esforçado entregador das refeições que a mãe fazia. Nessa época, seu círculo de amigos incluía gente como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Carlos Imperial, o que seria fundamental para que ele entrasse no mundo artístico. George Sauma, o Roberto Carlos, é bem caricato, o que acaba tornando um personagem sério o alívio cômico de algumas cenas.
Na fase adulta, já famoso, Tim é interpretado por Babu Santana (acima, com Alinne), ator experiente com diversas passagens pequenas pela TV e Cinema, como em Cidade de Deus (2002), Estômago (2007) e Os Penetras (2012). Buscando apresentar a sua versão para a celebridade, e não apenas uma cópia pálida, Santana consegue cativar o público mesmo em momentos mais antipáticos. Sem tomar lados, o roteiro se limita a narrar os fatos e apresentar Tim, com suas qualidades e defeitos. Antônia Pellegrino, de Bruna Surfistinha (2011) e da série Sexo e as Negas, teve a tarefa, ao lado do diretor, Mauro Lima, de adaptar Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, de Motta, e o maior desafio parece ter sido escolher quais anedotas deveriam entrar. Entre as mais importantes e as mais engraçadas, histórias que acabaram virando mito podem ser vistas no filme. Lima, responsável por Meu Nome Não É Johnny (2008), conduz com segurança, pecando por contar com uma narração muito explicativa que não se justifica.
Ao personagem de Cauã Reymond (de Alemão, 2014), o cantor e instrumentista Fábio, nome artístico do paraguaio Juan Senon Rolón, coube a narração, o que lhe confere grande importância para a vida de Tim Maia. A bela Alinne Moraes (de Heleno, 2011), esposa de Lima, vive uma colega fictícia da turma da Tijuca que personifica várias mulheres que passaram pela vida de Tim. O fato de ela ser mostrada cada hora com um acompanhante, pulando atrás de um músico bem sucedido como uma groupie, não lhe traz muita simpatia, mas ela acaba passando por maus bocados ao lado do marido, como a devoção bitolada da fase Racional. Muitas outras figuras passam pela tela, mostrando que Tim colecionava amigos e desafetos na mesma medida.
Apesar de um pouco longo, com seus 140 minutos, o filme é bem interessante por não só clarear quem foi Tim Maia, com trechos saborosos para fãs e desavisados, mas também por mostrar o modo de vida de uma época e os coadjuvantes que também se tornariam famosos. Pelas interpretações de Nunes e Santana no papel-título, o ingresso já valeria a pena. As histórias de Nelson Motta ganham vida de forma vibrante, completando o show. Sebastião Rodrigues Maia, onde quer que esteja, deve estar bem satisfeito com o retrato exibido: um sujeito folgado, desbocado e genial.
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