por Marcelo Seabra
Uma surpresa positiva nem sempre é o mesmo que um bom filme. Pode ser apenas que a expectativa sobre aquele lançamento estivesse tão baixa que qualquer coisa mediana pudesse surpreender. Esse é o caso de Hércules (Hercules, 2014), adaptação de quadrinhos da Radical Comics que propõe humanizar o semideus, mostrando a suposta verdade por trás do mito. A premissa é interessante e o filme se beneficia da presença carismática de Dwayne “The Rock” Johnson, mesmo com uma cabeleira ridícula, e tem contra um roteiro desequilibrado e a direção de Brett Ratner, realizador sem personalidade que não traz qualquer tipo de estilo, além de não ter ideia de como fazer uma boa sequência de ação.
Johnson (de Sem Dor, Sem Ganho, 2013) vive um mercenário extremamente forte cujas peripécias são conhecidas em todos os cantos do mundo. Ajuda o fato de ele andar com um contador de histórias, seu sobrinho (Reece Ritchie, de Príncipe da Pérsia, 2010), que aumenta seus feitos e alimenta a história de que Hércules seria filho de Zeus, o que o torna muito mais que um mero mortal. Com seus companheiros de armas, o anti-herói aceita trabalhos bem pagos, o que o leva à Trácia para defender o povo e o Rei Cótis (John Hurt, de Amantes Eternos, 2013) dos invasores impiedosos liderados por Reso (Tobias Santelmann, de Expedição Kon Tiki, 2012).
As reviravoltas que se seguem podem ser previstas sem qualquer poder paranormal e os personagens são tão rasos quanto bichinhos de desenhos animados, de onde vem a maior parte da experiência de Evan Spiliotopoulos, um dos roteiristas – o outro, Ryan J. Condal, faz sua estreia no Cinema. Acontece num número incômodo de vezes de um personagem mudar radicalmente de ação ou de lugar, o que mostra um descaso com a continuidade e deixa o público confuso. Não deixa de ser divertido ver o herói parar um cavalo com um soco e arremessá-lo, mas o ritmo é bem irregular, alternando momentos de humor deslocados, cenas confusas de batalhas e conversas mais intimistas marcadas por diálogos expositivos e motivacionais que parecem saídos de um livro do Paulo Coelho.
Apesar de seus vários defeitos, Hércules tem Johnson, um gigante cativante que tem desenvolvido seu talento para comédia ao mesmo tempo em que pode recorrer a seus músculos. Mesmo com discursos constrangedores, ele é um líder inegável, e ainda permite que seus colegas de elenco tenham destaque. O mais interessante, de longe, é Ian McShane (de Jack, o Caçador de Gigantes, 2013 – acima), que rouba cenas como o espirituoso profeta que alega saber a hora de sua própria morte. Rufus Sewell (de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, 2012), que vive o braço direito do protagonista, continua inexpressivo como sempre, mas funciona no papel de guerreiro durão. O mesmo pode ser dito de Joseph Fiennes, que leva sua afetação habitual ao Rei Euristeu. Os veteranos John Hurt e Peter Mullan (de Inimigos de Sangue, 2013) são competentes até quando não têm muito o que fazer.
Como as adaptações de quadrinhos estão em alta, veio a calhar ter a história The Thracian Wars à mão. Compensou mesmo em meio a um imbróglio com Steve Moore, o roteirista da revista, que não ganhou um centavo e ainda viu mudarem muito do que escreveu. E pouco antes da estreia de Hércules, havia outro filme em cartaz com o personagem e com o mesmo título, que em inglês é The Legend of Hercules. Problemas à parte, o longa já faturou o suficiente para garantir uma sequência, e a revista para servir de base já existe. É só aguardar.
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