Vampiros voltam a ser temidos na TV

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Baseada na trilogia de livros co-escrita por Guillermo Del Toro (de O Labirinto do Fauno, Hellboy e Círculo de Fogo) e Chuck Hogan (cujo livro Prince of Thieves deu origem ao filme Atração Perigosa), a série The Strain chegou às telas norte-americanas através do canal FX para injetar sangue novo (trocadilho intencional) nas séries de vampiros. Esqueça os adolescentes bonitos e bombados que passeiam pela telinha hoje em produções como The Vampire Diaries (Warner/SBT) e The Originals (MTV) ou mesmo aqueles que tentam uma convivência pacífica com os seres humanos, como os personagens da recém-finalizada True Blood (HBO). O que temos aqui são os predadores noturnos clássicos e sedentos de sangue, com uma ou outra característica que remete bastante a demais trabalhos de Del Toro (que, aqui, além de ser um dos produtores executivos, dirigiu 3 e responde pelo roteiro de 11 dos 13 episódios da primeira temporada, ao lado de Hogan).

The Strain começa quando um avião com mais de 200 passageiros fazendo o trajeto Berlim-Nova York aterrissa no aeroporto JFK. Quando os procedimentos de pouso não são respeitados e nenhuma comunicação parte da aeronave, suspeita-se de que algo estranho está acontecendo. Uma equipe é enviada para investigar, apenas para descobrir que todos dentro da aeronave estão aparentemente mortos. Isso acende todas as luzes de alerta, que vão desde terrorismo a ataque químico-biológico. Entra aí a equipe do Centro de Controle de Doenças, liderada pelo Dr. Ephraim Goodweather (Corey Stoll, de Sem Escalas, 2014) e que conta ainda com a Dra. Nora Martinez (Mia Maestro, de Selvagens, 2012) e o Dr. James “Jim” Kent (Sean Astin, o Samwise Gamgee da trilogia O Senhor dos Anéis). Ao investigar o avião, Eph e Nora descobrem duas coisas: quatro pessoas sobreviveram ao que quer que fosse que aconteceu naquele avião e eles estão diante de um patógeno jamais visto antes.

O ocorrido com o avião chama a atenção das autoridades norte-americanas, mas, graças à influência de um poderoso empresário, Eldritch Palmer (Jonathan Hyde) o incidente é minimizado, já que o ancião tem um interesse particular no que quer que aquela aeronave trouxera para a América e consegue manipular as autoridades certas a seu favor. Além de Eldritch, o único que parece saber exatamente o que realmente está por trás das centenas de mortes ocorridas no avião e as conseqüências que isso pode ter para a cidade de Nova York e, consequentemente, para o mundo como um todo, é Abraham Setrakian (David Bradley, de Game of Thrones), um sobrevivente do holocausto que, com a ajuda de Eph, tentará impedir o mal a todo custo.

O grande mérito de The Strain é a forma como a trama traz de volta o aspecto aterrorizante da figura do vampiro à TV. Del Toro e Hogan misturam aspectos mais conhecidos dessa figura mitológica com toques de modernidade para trazê-los para o século XXI de maneira bastante competente. Os sanguessugas aqui lembram bastante os reapers de Blade II (filme dirigido pelo cineasta mexicano) e há todo um clima de The Walking Dead em diversos episódios, ou seja, aquela sensação de tragédia iminente que só pode ser impedida por uma meia-dúzia de pessoas que enfrentam um mal – em tese – impossível de ser derrotado. Há ainda a forma criativa como a dupla abordou como os vampiros se reproduzem e se espalham, tornando tudo ainda mais aterrorizante.

Com Kevin Durand (Noé, 2014), Richard Sammel (de 3 Dias para Matar, 2014), Natalie Brown e Miguel Gómez completando o elenco principal da série, The Strain é uma das gratas surpresas de 2014 e tem agradado o público norte-americano. Antes mesmo da primeira temporada (com 13 episódios) ter sido encerrada, uma segunda já foi anunciada. O público brasileiro, no entanto, vai ter que esperar mais um pouco para poder conferir a série, já que o FX Brasil anunciou que ela desembarca por aqui apenas em janeiro de 2015, em data ainda a ser definida.

Del Toro e uma de suas criações

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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