por Marcelo Seabra
Quem assistiu a O Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose, 2005) e A Entidade (Sinister, 2012) sabe o que esperar quando Scott Derrickson decide fazer um filme de terror. Tensão, espíritos, cenas fortes, violência e um roteiro bem amarrado. Uma das maiores habilidades do diretor é criar um bom clima de suspense e é exatamente o que acontece em Livrai-nos do Mal (Deliver Us From Evil, 2014), novo trabalho que, assim como Emily Rose, é inspirado em fatos.
Há nove anos aposentado, Ralph Sarchie era um sargento da polícia de Nova York que começou a ter contato com casos estranhos que ele logo entendeu envolverem aspectos sobrenaturais. Trabalhando com dois parceiros, um policial e um padre, ele alega ter participado de mais de 20 exorcismos paralelamente a seu trabalho para a corporação. Ele inclusive foi muito próximo do casal Warren, demonologistas famosos retratados recentemente em Invocação do Mal (The Conjuring, 2013). Após a aposentadoria, Sarchie escreveu um livro (com Lisa Collier Cool) relatando diversas investigações que, agora, chegam ao Cinema com várias liberdades artísticas, com roteiro de Derrickson e seu parceiro habitual, Paul Harris Boardman.
No longa, Sarchie é vivido por Eric Bana (de Circuito Fechado, 2013) e é retratado como um sujeito durão, com um relacionamento difícil com a mulher e a filha causado pela grande dedicação ao trabalho. Ele é frequentemente exposto ao mal que as pessoas causam umas às outras nas ruas e não lida muito bem com isso. Sua facilidade de identificar as ocorrências mais graves e demandantes é vista pelo parceiro (Joel McHale, da série Community) como um radar, e é esse sexto sentido que leva a dupla a investigar crimes isolados que acabam revelando uma conexão. E Sarchie cruza o caminho do Padre Mendoza (Édgar Ramírez, de O Conselheiro do Crime, 2013), um jesuíta nada convencional com bastante experiência em lutar contra demônios.
O desenrolar da ação lembra obras como O Exorcista III (The Exorcist III, 1990) e Possuídos (Fallen, 1998), pela mistura dos gêneros policial e terror. Um certo exagero, no entanto, é observado na tentativa de criar a atmosfera, com animais mortos, sustos fáceis, pessoas estereotipadas e uma recorrência besta de músicas dos Doors, além de alguns efeitos sonoros que passam da conta. Mas nada que atrapalhe a experiência, já que há muitos acertos. Bana, como de costume, não tem muita facilidade para expressar emoções, mas isso até contribui com o papel, já que Sarchie também é um tanto emocionalmente distante. McHale faz algumas piadinhas, para quebrar o gelo, e é um bom contraponto. Mas é Sean Harris (de Prometheus, 2012), que vive uma espécie de soldado do capeta, que é responsável por boa parte das cenas mais impactantes.
Assim como os outros longas assinados por Derrickson, apesar de não ser tão bem sucedido, Livrai-nos do Mal é para quem tem estômago forte. Com tanta experiência com este tipo de ambientação, o diretor cria expectativa para seu próximo projeto, a adaptação do mago dos quadrinhos Doutor Estranho, mais um a integrar o Universo Marvel. É outra jogada interessante do Marvel Studios, que tem contratado nomes inusitados para seus filmes. Se for tão acertada quanto Os Guardiões da Galáxia (The Guardians of the Galaxy, 2014), só temos a ganhar.
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