por Marcelo Seabra
Na marca dos 25 anos de morte de Raul Seixas, quem ganha uma homenagem no Cinema é seu ex-parceiro, o consagrado Paulo Coelho. Não Pare na Pista (2014) é a cinebiografia do escritor e opta por ir e voltar no tempo para contar uma história mais interessante que qualquer outra que ele tenha escrito. Esse recurso, no entanto, se mostra vazio, é usado apenas para tentar tornar a obra menos convencional. E ainda afasta o espectador, que começa a se ligar ao personagem para logo perder o fio da meada, já que a história dá pulos no tempo.
A proposta da roteirista Carolina Kotscho, cuja estreia na função foi com Dois Filhos de Francisco, de 2005, é mostrar Coelho em várias épocas até chegar ao início da fama como escritor, quando sua trajetória já é bem conhecida. Antes disso, foi redator e editor de revista, compositor, produtor, além de um jovem tido pelo pai como problemático. A difícil relação entre os dois é um dos focos do filme, e eles chegam ao extremo quando Pedro envia Paulo a um hospício para tratamento com choque.
No meio deste longo caminho, Paulo se envolve com ufologia, magia, estuda o ocultista Aleister Crowley e conhece Raul Seixas, com quem veio a compor sucessos como Al Capone, Tente Outra Vez, Medo da Chuva e Sociedade Alternativa, além daquele que dá nome ao filme. Meu Amigo Pedro, inclusive, toca em um momento delicado, um dos pontos altos da sessão. Seixas por si só é outro destaque, devido à interpretação firme e criativa de Lucci Ferreira (acima, à direita), e infelizmente ele tem pouco tempo de cena. Os irmãos Andrade também não fazem feio: Ravel, quando o personagem é mais jovem, e Júlio, na fase intermediária e na mais avançada, sob pesada maquiagem. Ambos defendem bem o papel e a caracterização física é bem eficiente. Apenas quando Paulo está mais velho, Júlio é sabotado pela máscara que tem que usar, algo que chama toda a atenção para a estranheza de seu rosto, tirando a força de seu trabalho. Sua competência já foi demonstrada em Gonzaga (2012) e Serra Pelada (2013).
Algumas passagens polêmicas da vida do biografado são deixadas de lado ou apenas pinceladas. O racha com Seixas, por exemplo, é indicado em um momento rápido, sem entrar muito em detalhes. A composição da canção Al Capone soa forçada e irreal, reinventada para caber na situação. Drogas são mostradas aqui e ali, assim como algumas das várias mulheres que teriam cruzado o caminho de Paulo. As três principais ficam a cargo de Letícia Colin (de Bonitinha, Mas Ordinária, 2013), Paz Vega (de Os Amantes Passageiros, 2013) e Fabiana Gugli (de Ensaio Sobre a Cegueira, 2008), cada uma numa fase da vida do sujeito. Como os pais de Paulo, Enrique Diaz (de Mato Sem Cachorro, 2013) e Fabiula Nascimento (de SOS: Mulheres ao Mar, 2014) não têm muito o que fazer, um batendo e o outro soprando. Menos ainda faz o veterano Luís Carlos Miele (da série Mandrake), como o avô que fala “oi” e “tchau”.
A estrutura pode ter ficado longe do convencional. Mas Não Pare na Pista não é dos melhores programas. Serve como uma amostra da vida de um escritor que está longe de ser uma unanimidade. Amado por muitos, destratado por outros tantos, ele continua vendendo livros pelo mundo inteiro, em várias línguas. Difíceis são as adaptações de suas histórias para o Cinema, há algumas lutando há anos para saírem do papel. Sua vida chegou na frente, com algumas frases de auto-ajuda pinceladas na tela, não deixando nada a dever a sua obra.
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