Michael Bay produz mais Tartarugas Ninja

por Marcelo Seabra

Quando se fala que um longa é produzido por Michael Bay, a expectativa vai lá para baixo. E isso pode até ajudar, já que não esperamos quase nada e qualquer coisa pode agradar. No caso do novo As Tartarugas Ninja (Teenage Mutant Ninja Turtles, 2014), nem assim: o filme apenas bate com a expectativa baixa, com o resultado medíocre que esperamos ao entrar no cinema. Furos em massa no roteiro, atuações fracas, falas ridículas, vilões sem graça ou propósito e muita coisa recauchutada de outras obras compõem uma aventura chata, que tem seus eventuais momentos engraçadinhos e deve ser esquecida logo em seguida.

É engraçada a similaridade desse Tartarugas Ninja com a franquia dos Transformers, também comandada por Bay. Destruição desembolada, protagonistas genéricos criados por efeitos especiais, preocupação mínima com a lógica, a física e os personagens e muito marketing. Afinal, o importante é vender produtos, desde bonequinhos a pizza. E há a Megan Fox, que havia chamado Bay de Hitler publicamente, mas aparentemente voltaram às boas. Como velhas conhecidas do público, as tartarugas têm apelo suficiente para atrair espectadores, o que vem garantindo o primeiro lugar nas bilheterias e houve até o anúncio de uma continuação.

A trama básica é a mesma de sempre. Revisitando a origem das tartarugas em flashbacks e acrescentando novos elementos, o filme introduz a repórter April O’Neil (Fox), que pretende fugir de suas matérias chatas habituais e vai atrás de um furo de reportagem séria. Ela começar a investigar os crimes da gangue conhecida como Clã do Pé e descobre que há um justiceiro, ou quatro, combatendo os assaltos. Sua recém adquirida proximidade com as tartarugas vai trazer problemas e elas terão que defender a garota. O chefe do Clã, Destruidor (Tohoru Masamune), tem um plano para dominação da cidade de Nova York e só quem poderá defender os bons cidadãos são Leonardo, Michelângelo, Donatello e Raphael, liderados pelo rato Splinter.

O primeiro problema que observamos é a escolha para a mocinha: a linda e insossa Megan Fox já mostrou em diversas oportunidades que não sabe atuar, e muito menos poderia carregar um filme nas costas. E ela não guarda nenhuma similaridade física com as Aprils que conhecemos de outras encarnações, diga-se de passagem. Will Arnett, ator e dublador talentoso (de Uma Aventura LEGO, 2014), é relegado ao papel de alívio cômico numa relação mais do que batida com a repórter. William Fichtner (de O Cavaleiro Solitário, 2013) vive um poderoso empresário que, desde o início, já conseguimos ler e prever. E o que a Whoopi Goldberg estava fazendo ali? Talvez, tenha sido uma tentativa falida de trazer humor. A necessidade de ter piadinhas é tão grande que há uma relacionada a uma música que é totalmente fora de lugar, além do fato de ter uma referência obscura que dificilmente alguém vai pescar.

Quando um vilão tem uma arma empunhada e simplesmente parece se recusar a matar os heróis, algo muito errado tem. Quando atiram e as balas magicamente não atingem, é até pior. O aparato tecnológico das tartarugas, em casa (ou esgoto) e no carro (?), é igualmente inexplicável. Como boa parte da história, aliás. Acreditar em tartarugas ninjas mutantes adolescentes, vá lá. O universo criado permite isso. Difícil é acreditar que esse Jonathan Liebesman (de Invasão do Mundo, 2011, e Fúria de Titãs 2, 2012) algum dia vá dirigir algo que preste, e ainda mais sob a batuta de Bay. Ao final da sessão, foram tantas frases feitas de autoajuda que pensei estar assistindo à cinebiografia de Paulo Coelho, que estava em exibição na sala ao lado. Talvez, tivesse sido melhor.

A dupla de Transformers parece ter feito as pazes

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

Recent Posts

Pacote séries novas – parte II

O Pipoqueiro traz comentários de mais quatro séries para você conhecer: Shrinking, Detetive Alex Cross,…

4 dias ago

Beatles ’64 mostra a invasão da banda nos EUA

Martin Scorsese recupera imagens de 1964 para mostrar como foi a chegada dos Beatles nos…

7 dias ago

Novas séries enchem a programação de streamings

O Pipoqueiro apresenta quatro novas séries exibidas em serviços de streaming, além de trazer um…

2 semanas ago

Celebre a carreira de John Williams com documentário

O Disney+ lançou Music by John Williams, documentário que O Pipoqueiro já conferiu e comenta…

1 mês ago

Halloween Especial 2024

O Pipoqueiro preparou um pacote de filmes de terror ou suspense para este Halloween e…

2 meses ago

Agatha e Pinguim representam disputa Marvel X DC

Confira o resultado de uma hipotética disputa entre DC e Marvel, já que ambas as…

3 meses ago

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!