por Roberto Ângelo
Os eventos anunciados no final do filme Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011) ganham forma na sequência que chega aos cinemas nesta semana. Batizado de Planeta dos Macacos: O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes, 2014) esse capítulo da franquia dos símios evoluídos tem um novo diretor, o competente Matt Reeves (responsável pelo interessante Cloverfield, de 2008), e um antagonista capaz de roubar parte do brilho do personagem Caesar (novamente interpretado por Andy Serkis).
Para os humanos, o cenário é desolador. Boa parte da civilização foi dizimada pela “epidemia símia”, deflagrada após o capítulo anterior. Enquanto isso, Caesar e seu grupo de macacos vivem em paz na floresta localizada nos arredores de São Francisco. Nas ruínas da cidade, um pequeno grupo de humanos, liderados por Dreyfus (Gary Oldman, da trilogia Batman), luta pela sobrevivência em meio ao cenário apocalíptico.
O inevitável confronto entre humanos e macacos se dá quando o primeiro grupo, carente de eletricidade, precisa ir ao território dos símios para colocar em funcionamento uma usina, última esperança dos refugiados para garantir um pouco de conforto e segurança. Enquanto Caesar opta pela via diplomática, acreditando que a coexistência das espécies é possível, Koba (Toby Kebbell, de O Conselheiro do Crime, 2013), seu braço direito e uma espécie de líder militar dos macacos, desconfia dos reais propósitos dos homens.
Apesar de Caesar ainda cintilar como o grande protagonista dessa nova era da série, deve-se dizer que é o chimpanzé Koba quem mais chama a atenção. Ele pode ser classificado como um “vilão com razão”, já que as marcas que carrega no corpo, resultado dos inúmeros abusos que sofreu nas mãos dos humanos, justificam a sua postura cética e agressiva.
Competente ao elevar continuamente o clima de tensão e escalar a guerra que, inevitavelmente, explode no terceiro ato, o diretor constrói uma sequência que supera o original em muitos aspectos. Os efeitos digitais, aliados ao método de captura de movimentos, chegam a níveis inimagináveis, concebendo criaturas que em momento algum parecerem artificiais. Reeves ainda recheia o filme com easter eggs que fazem a alegria dos fãs de ficção científica como, por exemplo, a inclusão de um coro de vozes na cena de abertura que lembra muito a música de György Ligeti utilizada por Stanley Kubrick durante a sequência “O Amanhecer do Homem” (a famosa cena dos macacos) do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968). Ou, ainda, o detalhe singelo do desenho que serve de símbolo para a tribo de Caesar, que remete aos contornos da janelinha por onde ele observava o mundo no filme anterior.
Seguindo a fórmula de O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back, 1980) ao adotar um tom mais sombrio e concluindo a trama com um gancho para uma terceira aventura, Planeta dos Macacos: O Confronto agrada pelo espetáculo visual que apresenta e pela sua mensagem atualíssima sobre os obstáculos aparentemente intransponíveis que grupos com características diferentes enfrentam para coexistir em paz.
A trajetória da franquia Planeta dos Macacos é mais tortuosa do que os galhos das árvores por onde essas criaturas adoram se locomover. O filme original foi lançado em 1968 e causou grande impacto. Baseado no livro homônimo escrito pelo francês Pierre Boulle, a trama mostrava as desventuras de um astronauta que cai em um planeta povoado por macacos evoluídos. Como era comum na época, tanto o livro quanto o filme faziam uma crítica social por meio da criação de um universo distópico.
Sucesso de público e de crítica, o filme marcou época pela qualidade da maquiagem que transformou atores como Roddy McDowall e Kim Hunter em símios e pelo final surpreendente, com um dos primeiros twist endings do cinema que, para muitos, ainda é insuperável. Depois, vieram as inevitáveis sequências e uma série de televisão malfadada. Porém, no final dos anos de 1970, o gosto popular por macacos falando e montando cavalos parecia ter minguado, já que o público apreciador de ficção científica começava a se encantar pelas batalhas intergalácticas de Star Wars.
Em 2001, Tim Burton conduziu a primeira tentativa de reboot da série com uma refilmagem da obra original. Apesar dos efeitos de primeira e elenco afiado, o filme foi um desastre de crítica e público, deixando a impressão de que a saga dos macacos havia, definitivamente, caído do galho. Eis que, em 2011, foi lançado Planeta dos Macacos: A Origem. Começando do zero, o filme apostou na captura de movimentos para criar os chimpanzés inteligentes. Sua trama também inovou ao recuar no tempo e mostrar os eventos que permitiram que os símios tomassem conta do planeta. Entre os muitos acertos desse filme, destaca-se a contratação do ator Andy Serkis, que deu vida ao Gollum de O Senhor dos Anéis, para interpretar Caesar, o “Adão” dos símios.
A excelente recepção que a sequência Planeta dos Macacos: O Confronto está recebendo junto aos críticos e público parece indicar que, desta vez, a saga dos espertos chimpanzés terá uma presença duradoura no cinema.
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