por Marcelo Seabra
Atualmente no quarto lugar entre as maiores bilheterias no Brasil, O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014) tem enchido as poucas salas que ocupa e surpreende os exibidores. Sem muito barulho, o filme chegou tímido aos nossos cinemas e tem se mantido forte, sustentado por uma ótima publicidade boca a boca. Claro que ajuda ter um elenco extremamente competente, entre outros muitos méritos reunidos pelo diretor Wes Anderson.
Partindo de textos do escritor Stevan Zweig, Anderson escreveu o roteiro e optou por repetir algumas parcerias. Do elenco do último trabalho, Moonrise Kingdom (2012), ele convocou por exemplo Bill Murray, Tilda Swinton, Edward Norton, Jason Schwartzman e Bob Balaban, além do também recorrente amigo Owen Wilson. O caldo é engrossado com Ralph Fiennes como protagonista, que parece se divertir com esse intervalo entre trabalhos mais sisudos e pesados. E estão lá Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Saoirse Ronan, F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Jude Law e Harvey Keitel, entre outros. O jovem Tony Revolori tem um papel de destaque e frequentemente rouba a cena, não deixando nada a desejar em relação aos colegas veteranos.
Narrada por um escritor, a trama nos apresenta a Monsieur Gustave H (Fiennes), um famoso gerente de um igualmente notório hotel. Entre as várias aventuras vividas por ele, acompanhamos o episódio em que Gustave é acusado de um assassinato e conta com seu fiel funcionário Zero (Revolori) para provar sua inocência. Inúmeros personagens se envolvem de alguma forma, com maior ou menor importância, e temos a oportunidade de reconhecer vários rostos conhecidos. Esse joguinho quase se torna uma distração, mas o ritmo de comédia de situações não dá muito tempo para o público divagar, ou perderá alguma coisa.
Os diálogos ágeis e engraçados característicos de Anderson se espalham por toda a sessão, assim como os enquadramentos inusitados e milimetricamente calculados. Não faltam personagens no centro da tela, como já esperamos num filme do diretor. A fotografia, além de mostrar paisagens fantásticas, delimita bem a época, já que a história vai e volta no tempo. A trilha, sem músicas pop, fica novamente com Alexandre Desplat, que usa instrumentos exóticos para casar com as imagens.
O clima de fábula de O Grande Hotel Budapeste torna as coisas um tanto fantasiosas, dificultando um envolvimento maior por parte do público. E a trama, bem intrincada, deixa tudo bem confuso em certos momentos. Ao final, felizmente, as pontas se encaixam e a experiência foi das mais satisfatórias. É discutível se trata-se do melhor filme de Anderson, mas certamente é o que reúne o maior número de características do cineasta, tornando a obra um belo cartão de visitas para ele.
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