Bruxas de Salem rumam à TV

por Marcelo Seabra

Entre fevereiro de 1692 e maio de 1693, foram conduzidos os chamados julgamentos das bruxas de Salem, somando vinte pessoas (a maioria mulheres) que foram condenadas à morte acusadas de bruxaria. A Vila de Salem e a Cidade de Salem, vizinhas que disputavam o nome e partes do território, foram duas das localidades que receberam os julgamentos. Naturalmente, um episódio que envolve história, política e o sobrenatural ganharia várias encarnações no Cinema e na TV. A mais recente é a série Salem, do canal WGN America, uma atração que não pretende economizar na violência e na nudez, como algumas têm feito.

Com alguns elementos factuais misturados, a série parte logo para a ficção criando um casal central que, obviamente, não vai ter um futuro fácil. A vida se encarrega de separá-los e, anos depois, acontece o reencontro, numa situação completamente diferente. Mary, a heroína, logo se torna a vilã ao se casar com um dos piores sujeitos da cidade, acreditando que seu amor havia morrido na guerra. É importante lembrar que fala-se de uma época em que condenados por determinados crimes, como os de cunho sexual, eram marcados a ferro quente, tamanha era a carolice que imperava. E a caça às bruxas é um assunto sempre em voga, uma metáfora para muitas situações do mundo de hoje.

Como trata-se de uma trama ambientada no fim do século XVII, há um trabalho de direção de arte primoroso, os cenários são perfeitos e o figurino enche os olhos. Com tudo no lugar, cabe ao espectador se deixar levar para a época e acompanhar o drama dos pombinhos. Como Mary, a bela Janet Montgomery (de Cisne Negro, 2010) consegue da doçura à amargura, com caras e bocas condizentes. A intérprete faz de sua personagem uma mulher forte, dissimulada e desiludida, tudo na medida certa. Shane West (de Nikita) é John Alden, o ex-soldado que volta à cidade para encontrar as coisas muito piores do que deixou. O fanatismo religioso e as suspeitas deixaram todos paranóicos, pode haver bruxas em qualquer lugar.

Criada pelos roteiristas Brannon Braga (de 24 Horas) e Adam Simon (de Evocando Espíritos, 2009), Salem começou a ser exibida nos Estados Unidos em meados de abril. Se, por um lado, vem dividindo a crítica, por outro a atração tem garantido público e trazido notoriedade para o canal. Em maio, teve sua segunda temporada confirmada, a ser exibida em 2015. O WGN se animou tanto com o sucesso que já tem mais duas séries prontas para entrarem na programação, Manhattan e Ten Commandments, além de outras quatro em desenvolvimento: Radiant Doors, Scalped, Ness e American Dream. Pena que ainda não há previsão para a estreia de nenhuma delas no Brasil.

A felicidade dos pombinhos dura pouco

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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