Novo 300 tem mais gregos, persas e sangue

por Marcelo Seabra

Antes, eram 300 espartanos contra todo o exército persa. Agora, são os demais gregos que buscam manter seu estilo de vida lutando contra o Deus-Rei Xerxes. Depois do sucesso de 300 (2006), uma sequência era inevitável. Na dúvida entre fazer uma sequel ou uma prequel, os responsáveis ficaram no meio do caminho e criaram uma história paralela, que começa antes e termina depois do sacrifício de Leônidas. 300: A Ascensão do Império (300: Rise of an Empire, 2014) certamente vai divertir quem gostou do primeiro, só não inclui nada.

O diretor Zack Snyder ficou conhecido pelo estilo de filmar alterando a velocidade e dando ênfase ao sangue que espirra, aos músculos que se chocam contra um punho cerrado e balançam de forma dramática, a todo tipo de violência estilizada que mais parece um espetáculo que uma guerra. Noam Murro, o novo nome por trás da empreitada, simplesmente tenta copiar o máximo que pode o jeito de Snyder, fingindo que é o próprio quem está por trás. Snyder inclusive é roteirista aqui, ao lado de Kurt Johnstad, repetindo a parceira do anterior. E, novamente, se baseiam numa história em quadrinhos de Frank Miller e Lynn Varley.

Além de conhecermos um pouco sobre a formação de Xerxes (o nosso Rodrigo Santoro – acima), entendemos que ele começa uma campanha não apenas pela dominação de Esparta, mas por toda a Grécia. Quem pretende unir os demais povos é o estrategista Temístocles (Sullivan Stapleton, de Caça aos Gângsteres, 2013), que será também a força a motivar os soldados estando à frente deles no campo de batalha. Do outro lado, temos o numeroso exército persa, que tem Xerxes como líder oficial, mas a presença que marca é de Artemísia (Eva Green, de Sombras da Noite, 2012), uma grega que nutre grande sentimento de vingança contra seus pares. A tensão sexual entre os dois antagonistas é palpável antes mesmo que eles se encontrem, e já sabemos como será o duelo final.

Enquanto tudo vai se desenrolando, conhecemos vários personagens e reencontramos outros, como a Rainha Gorgo (Lena Headey), a brava esposa de Leônidas (Gerard Butler), que aparece rapidamente e nem é creditado. David Wenham, como Dilios, é outro que chega para lembrar os espartanos e sua luta. Temístocles procura Gorgo para propor uma aliança, mas os espartanos pretendem lutar sozinhos, episódio que acaba ficando conhecido como a Batalha das Termópilas. Temístocles segue unindo outros povos contra Xerxes e o que vemos é basicamente uma repetição, já que é Davi contra Golias mais uma vez. Os gregos são, em sua maioria, fazendeiros, comerciantes ou jovens inexperientes.

O fim da guerra contra Leônidas pode ser visto como uma vitória para os persas, mas transformou os espartanos em mártires, heróis, histórias a serem contadas eternamente. Isso, para aquele povo, era vitória o suficiente, já que eles pareciam inclinados a morrerem de forma honrosa. Para Temístocles, o foco não é morrer, mas defender a liberdade, que era a diferença básica entre os dois exércitos: os gregos livres contra os persas e seus escravos. Xerxes permanece como uma figura curiosa, mística, que não é abordada de frente, serve apenas como desculpa para a trama. Santoro é modificado para se tornar um gigante de voz cavernosa e tem uma historinha acelerada contada no início que parecia ser o cerne, mas logo é abandonada. Assim como com Leônidas, era necessário ter um protagonista forte e carismático, envolvido na batalha, com quem o público pudesse se identificar, e esse é Temístocles.

A Ascensão do Império tem muito mais exagero que o 300 original, mantendo o espírito e potencializando-o. Não faltam membros decepados e sangue jorrando, e cenas ainda mais loucas, como um cavalo saindo da água e passando pelo fogo. As frases motivacionais e de efeito não faltam, mas nada tão emblemático como o “This is Sparta” do primeiro. O quesito ineditismo, que fez 300 chamar tanta atenção, já não funciona. Como “mais do mesmo”, no entanto, essa sequência (ou pré-continuação, ou algo paralelo) se mostra uma produção bem feita, digna de arrancar seus suados reais. E ainda tem a linda Eva Green.

Eva Green valeria o ingresso sozinha

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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