por Marcelo Seabra
Pegar um brinquedo que marcou a infância de muita gente e fazer um filme não deixa de ser uma experiência arriscada. Pode estragar as lembranças de toda uma geração, ou de mais de uma. Ainda mais quando se trata de algo tão rico, com tantos universos como era o LEGO, aquelas pecinhas que não só estimulavam a criatividade das crianças como as fazia pensar, já que tudo tinha que ser calculado para ficar bacana. E, depois, era possível desmontar e começar tudo de novo, de outro jeito completamente diferente. Uma Aventura LEGO (The LEGO Movie, 2014) aproveita muito bem esse espírito e deve divertir muito mais os adultos que se aventurarem que as crianças, que ficarão vidradas na quantidade de cores e atrações, mas não entenderão metade das piadas.
Com um humor bastante ácido, a história acompanha um sujeito comum, Emmet, que descobre um artefato que poderia parar os planos de dominação mundial do grande vilão, o Presidente Negócio. Essa trama padrão, bem ao estilo Matrix, se prova a oportunidade perfeita para misturar diversos personagens do universo pop, e ajuda ter a gigante Warner Bros. por trás, já que ela é detentora de muitos direitos de uso. Assim, temos heróis como o Batman e o Superman com Han Solo e Chewbacca, o mago Gandalf, figuras históricas como Michelangelo, e parece não haver limite. Bem como na brincadeira de uma criança, que não precisa obedecer a regras ou lógica. Todos parecem viver à margem da sociedade, já que as pessoas se comportam de forma padrão, gostam das mesmas coisas (ruins), como uma série de TV imbecil e uma música grudenta, e parecem não se importar com a dominação mental à qual estão submetidos.
Com todos os cenários construídos por LEGO, tudo é lindo e serve aos propósitos do filme. A animação é perfeita, com aqueles pequenos bonecos mexendo apenas pernas, braços, mãos e pescoço. Quanta expressividade conseguiram tirar de um bonequinho amarelo! Que o diga o policial que brinca com o clichê do tira bom e tira mau, um dos capangas mais legais das animações. As brincadeiras com a personalidade depressiva, convencida e infantil do Batman são muito acertadas. Sem nada apelativo ou inapropriado, os diretores e roteiristas Phil Lord e Chris Miller (de Anjos da Lei, 2012, e Tá Chovendo Hambúrguer, 2009) conseguem ainda fazer críticas sociais (“Estou na TV, vocês vão acreditar em mim”) em meio a tanto nonsense, sempre quebrando padrões e superando expectativas. A música tema, por exemplo, é um convite à falta de pensamento, substituído por um otimismo infundado e irracional.
No Brasil, claro, temos o problema de não conseguir sessões legendadas, o que estraga uma grande atração de animações: as vozes originais escolhidas a dedo. Grandes nomes, alguns em ascensão, e comediantes da TV se misturam de forma muito saudável, e temos Morgan Freeman, Liam Neeson, Will Arnett, Chris Pratt, Elizabeth Banks, Will Ferrell, Charlie Day, Will Forte, Jonah Hill, Colbie Smulders, Channing Tatum, e a lista continua. São muitas participações especiais que só poderemos conferir em homevideo. Mas, mesmo dublado, vai ter muita gente chegando em casa e revirando caixas antigas e empoeiradas atrás dos brinquedos. O final, mais do que satisfatório, vai garantir a alegria do espectadores e a existência de uma infalível sequência.
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Se achar sessões legendadas para filmes adultos já está difícil, imagina os infantis, e ainda com a palavra "aventura" no titulo, é uma tarefa impossível mesmo.
Já esperava que o filme seria bom, mas pela sua critica, ele é bem mais que isso.