por Marcelo Seabra
Tom Sawyer e Huck Finn são dois dos maiores personagens da literatura mundial. Jeff Nichols tem se mostrado um cineasta extremamente habilidoso e está apenas em seu terceiro filme. O cineasta encontra o clima das criações de Mark Twain em Amor Bandido, título nacional para Mud (2012), um drama que reúne vários temas, todos tratados com a devida atenção, e grandes atuações, com destaque para o personagem principal, vivido com excelência por Matthew McConaughey. Tom e Huck não estão realmente lá, mas é como se estivessem.
Um lugar idílico, às margens do rio Mississipi, é o contraste para a cidade, onde a modernidade e a violência se esgueiram. É nesta cidade que crescem dois garotos simples, Ellis (Tye Sheridan, de A Árvore da Vida, 2011) e Neckbone (o estreante Jacob Lofland), cada um em sua realidade com problemas, como qualquer outro menino da região. É interessante reparar na similaridade de nomes: Ellis e Tom de um lado, Huck(finn) e Neck(bone) do outro. Quando eles conhecem o andarilho Mud na ilha para onde escapam de vez em quando, decidem ajudá-lo a se reunir com seu grande amor, Juniper (Reese Witherspoon, de Água para Elefantes, 2011). Crescimento, amor, vingança, família, solidariedade… Tem de tudo, além da beleza das imagens.
Os jovens atores, ambos bem jovens, são muito convincentes em seus papéis, e McConaughey segue seu belo (e recente) caminho rumo ao reconhecimento profissional. Uma série de bons filmes, mesmo que sempre usando seu sotaque característico do sul em personagens variantes do mesmo tema. Ele vem chamando cada vez mais atenção e não surpreenderia ele ser indicado a premiações. Além de Killer Joe (2012), Magic Mike (2012) e Bernie (2011), ele está no inédito Dallas Buyers Club (2012), já de cara elogiado até! Witherspoon só precisa ser bonita para trazer o potencial trágico necessário a sua Juniper, com o veterano Sam Shepard (de O Homem da Máfia, 2012) completando o time principal como um atirador amargurado. Pontas de Michael Shannon, Joe Don Baker e Sarah Paulson só engrandecem o elenco.
Versões de Tom Sawyer e Huck Finn aparecem no filme deliberadamente, o diretor confessa tê-los como referência. Não foi a toa que Ernest Hemingway disse que se tratava dos personagens mais importantes da ficção, sendo constantemente usados como pontos de partida. Algumas experiências autobiográficas estão misturadas, já que o longa trata de amadurecimento e passagem para a vida adulta. As primeiras paixões marcam um adolescente, e as descobertas nessa etapa da vida são inúmeras. Seria uma espécie de atualização das histórias de Mark Twain, mantendo um clima bem similar. Trata-se da maior produção realizada no estado do Arkansas, o que trouxe muita autenticidade às filmagens.
Para Nichols, é uma evolução. A câmera é praticamente parada em Shotgun Stories (2007), o primeiro trabalho do diretor, enquanto ela se move um bocado em O Abrigo (Take Shelter, 2011), com muitas imagens seguindo um movimento. Em Mud, ela quase não para, como conta o diretor de fotografia Adam Stone, habitual parceiro de Nichols. A ambição cresce. E há reviravoltas interessantes, que não serão aprofundadas para que não se revele nada importante. Basicamente, é o tipo de trabalho que nos faz aguardar ansiosamente pelo próximo de Nichols.
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