por Marcelo Seabra
Alguns dos temas recorrentes na obra de Stephen King, um dos escritores mais prolíficos e mais adaptados do mundo, estão em Carrie. Em uma mistura de história de amadurecimento e de bullying, muito antes do termo ter sido cunhado, conhecemos Carrie White, uma garota tida como a esquisita da escola que é alvo de todas as brincadeiras de mal gosto não só dos meninos, mas das meninas, que são muito mais más. O baile de formatura se aproxima e todos se preparam, e é nesse momento que Carrie, ao menstruar tardiamente pela primeira vez, descobre também o domínio de poderes sobrenaturais. Margaret White, a mãe, é uma fanática religiosa cruel que cria a filha à margem da modernidade a ponto dela achar que iria morrer ao sentir o sangue menstrual escorrer.
O que vai acontecer com todos aqueles jovens já é mais do que sabido por qualquer um que goste dos gêneros suspense e terror e tenha alguma bagagem literária ou cinematográfica. De Palma fez um excelente trabalho, que chamou a atenção para a obra de King e abriu caminho para gente como Stanley Kubrick (de O Iluminado, 1980), John Carpenter (Christine, 1983), David Cronenberg (A Hora da Zona Morta, 1983), George Romero (A Metade Negra, 1993), Rob Reiner (Conta Comigo, 1986), Frank Darabont (de Um Sonho de Liberdade, 1994, À Espera de um Milagre, 1999, e O Nevoeiro, 2007) e Bryan Singer (de O Aprendiz, 1998).
Depois de estrelar Terra de Ninguém (Badlands, 1973), Sissy Spacek explodiu para o estrelato como Carrie, a protagonista da primeira adaptação de uma história de King. A responsabilidade de Chloë Grace Moretz (a Hit Girl dos dois Kick Ass) é grande e os problemas já começam aí: a garota é bem mais bonita do que deveria. Mesmo enfeiada, ela não chega no que precisava, e parece não se encaixar no papel, mais lembrando uma dos X-Men. Melhor fez Julianne Moore (de Virada no Jogo, 2012), no papel da mãe desvairada, que ama a filha, mas a vê como um produto do pecado. Um personagem paradoxal, que se preocupa com a educação da filha e, por isso mesmo, não titubeia em castigá-la fisicamente, usando Deus como desculpa. Mais um elemento recorrente para King: a crítica ao fanatismo religioso.
As primeiras cenas do longa de 76 envolvem colegiais nuas no vestiário e, nos dias politicamente corretos de hoje, já estava claro que isso não se repetiria. Engraçado notar que a violência é reforçada, mas sexo não pode. É um mistério o que teria levado Kimberly Pierce, a diretora do elogiado Garotos Não Choram (Boys Don’t Cry, 1999), a assumir um trabalho impessoal como esse e entregar um resultado tão genérico e previsível. Ao contrário de A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013), uma refilmagem que aproveita os pontos principais do original e os potencializa, o novo Carrie é insosso, desnecessário, não acrescenta nada. Em alguns pontos, é até mais fiel ao livro que o original, o que não chega a ser um diferencial por si só. Se fizer as novas gerações conhecerem a obra de King e a história da pobre garota telecinética, talvez tenha cumprido seu papel.
PS: Não deixe de conferir o podcast gravado com a equipe do site Cinema em Cena sobre as adaptações da obra de Stephen King: bit.ly/1bjEmMB
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