por Marcelo Seabra
Quatro meninas bonitinhas, sendo duas delas estrelas da Disney, de biquínis no cartaz de um filme chamado Spring Breakers: Garotas Perigosas (2013). Claro que dava para ter um preconceito e passar direto, ignorando solenemente o que poderia ser uma bobagem. Não é exatamente o que deduzimos, indo além de uma aventurazinha juvenil, e aproveita para fazer alguma crítica, ou ao menos uma observação sobre a geração dos anos 2000. Não chega a ser bom, mesmo sendo melhor do que parece.
A primeira coisa que se pode imaginar é que as tais menininhas do cartaz não farão cenas mais quentes, por terem uma fama a manter. Elas podem ter servido para ajudar o diretor Harmony Korine a levantar o orçamento necessário, mas já começam a jogar contra a produção desde o início. A proposta é radicalizar e mostrar como meninas em torno dos 20 anos podem ficar cansadas da rotina e acabar fazendo loucuras, inclusive atos contra a lei. E o pior: elas não vêem problema nisso, já que o objetivo é se divertir. É o diretor e roteirista dizendo que a geração atual quer se satisfazer, não importam as consequências. Por isso, a escolha das atrizes era fundamental para dar autenticidade e fazer o público comprar a produção.
Para quem não se lembra, Korine foi incensado em 1995 como o criador de Kids, longa escrito por ele e dirigido por Larry Clark que pretendia ser o retrato dos jovens da década de 90. Festas, drogas, sexo e nenhum comprometimento era o que os personagens buscavam. As coisas não mudaram muito desde então, Korine continua difundindo essas ideias. Em Spring Breakers, quatro amigas de muito tempo decidem aproveitar o recesso que dá nome ao filme, a Spring Break, uma espécie de feriado prolongado tradicionalmente comemorado nos Estados Unidos em cidades praianas com muita bebida, quando todos parecem perder inibições em prol do prazer.
Para o elenco principal, foram reunidas Selena Gomez (cantora e atriz de diversas atrações adolescentes) e Vanessa Hudgens (de High School Musical), queridinhas dos adolescentes, além de Ashley Benson (da série Pretty Little Liars) e Rachel Korine, esposa e musa do diretor. Elas reúnem dinheiro para a viagem roubando um restaurante e viajam sem culpa para uma praia da Flórida, Saint Pete, onde gastam como celebridades. Depois de terem problemas com a polícia, são ajudadas por um dublê de mafioso e de rapper, Alien, e entram de cabeça no mundo de violência dele. Alien é mais um papel em que James Franco parece estar se divertindo sendo ele mesmo, com pequenas variações, como vimos em É o Fim (This Is the End, 2013).
A história parece se passar em uma cidade dos sonhos, o que os tons de cores e a trilha reforçam. Alguns efeitos de edição e de som, como a antecipação de certas falas, tentam dar uma roupagem moderna, e os rumos que a história toma levam o projeto a um território perigoso, o da pretensão misturada com exagero. Korine parece querer ser cult imediatamente. Pela recepção que o filme teve nos festivais do Rio e de Veneza, onde estreou, isso pode não estar muito longe da realidade.
PS: No mais recente Papo de Redação, podcast da equipe do site Cinema em Cena, Spring Breakers foi um dos filmes discutidos. Confira aqui: http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=51581&cdcategoria=31
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Eu acho que o foco de Spring Breakers está nos desejos no inconsciente coletivo dessa geração e não em retratá-la literalmente, daí o tom onírico. Os temas de Korine podem ser os mesmos de outrora (se bem que "festas, drogas, sexo e nenhum comprometimento" são ideais cool da cultura dos jovens americanos muito antes dos anos 90), mas o diferente aqui é como a estrutura narrativa se assemelha a um videogame, ao mesmo tempo assimilando um elemento da geração 2000 e reforçando a imaterialidade dos eventos expostos no filme.
Spring Breakers reside na incerteza entre a escura realidade e o neon do mundo dos sonhos, entre a conduta moral que a sociedade demanda de garotas daquela idade e a imoralidade dos atos que elas cometem para escapar de suas vidas por alguns dias, mas não pretende criticar suas protagonistas. Parece-me mais um olhar sobre o que aflige aquelas pessoas.
Belo comentário, Matheus! E obrigado pela visita!