Drácula renasce na TV

por Marcelo Seabra

Depois de quatro anos como o soberano da Inglaterra, Jonathan Rhys Meyers descobriu uma forma de continuar usando figurino de época vivendo um personagem poderoso. Do Henrique VIII de The Tudors, ele passou a ser Drácula na nova encarnação do morto-vivo mais famoso de todos. Criada por um jornalista e escritor de quadrinhos, Cole Haddon, a série é produzida e exibida nos Estados Unidos pela mesma rede responsável por Hannibal (2013), a NBC, o que mostra que não é só a TV a cabo que tem interesse em bancar produções ambiciosas e de teor adulto.

Em boa companhia, Rhys Meyers entra para uma turma que inclui Max Schreck, Bela Lugosi, Christopher Lee, Gerard Butler e Gary Oldman, para ficar nos mais famosos, já que a lista completa de intérpretes do ícone teria páginas. Seu charme canastrão, devidamente empregado em Tudors, volta a atacar, já que ele vive um milionário misterioso que fura pescoços nas horas vagas. Ele é acordado na Londres do fim do século XIX e parece ter um propósito firme: acabar com uma tal Ordem do Dragão, uma sociedade secreta formada pelos cidadãos mais relevantes financeiramente falando. Eles teriam sido responsáveis pela morte da mulher de Drácula, e são quem acoberta mortes ligadas a vampiros (o que teria sido o caso de Jack, o Estripador).

Assumindo uma nova identidade, talvez para afastar velhos inimigos, o conde se torna o americano Alexander Grayson, um industrial que financia pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias baratas e limpas. Na verdade, o que ele pretende é tirar dos tais figurões toda a riqueza que a exploração do petróleo deu a eles. No meio do caminho, claro, ele encontra Mina Murray (Jessica De Gouw, de Arrow), a suposta reencarnação da falecida sra. Drácula. A origem do personagem não é recontada, mas vez ou outra flashbacks são usados para tornar certas passagens mais claras. E não espere encontrar tudo como Bram Stoker deixou: a série não pretende mexer nas “regras” que regem o mundo dos mortos-vivos (não é Crepúsculo!), mas revirou tudo que cerca Drácula. Jonathan Harker (Oliver Jackson-Cohen, de Mundo Sem Fim, acima, com De Gouw), por exemplo, deixou de ser um correto imobiliário e agora é um jornalista que se acha muito pouco para Mina, complexo que o impede de pedi-la em casamento.

Com Drácula como protagonista e os capitalistas gananciosos como antagonistas, além de um mocinho aborrecido, fica difícil torcer para alguém. O maior desafio da série, além de seguir o cânone vampirístico, é fazer com que o público simpatize com o vampiro. Toda a questão da vingança ajuda, fortalece o quesito “ele não é tão mau assim”, ou “há uma razão para essa matança”. A exemplo de The Blacklist (2013), outra boa série da TV aberta, Drácula parece ter um novo alvo a cada episódio, buscando se aproximar de seus objetivos. Dependendo dos números de audiência, pode ser que ele consiga chegar ao final da lista e finalmente reconquiste Mina.

Rhys Meyers aproveita para fazer uma boquinha

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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