por Marcelo Seabra
O encontro de uma ótima personagem com uma intérprete inspirada é sempre um momento fantástico de se conferir. É isso que Woody Allen nos proporciona com seu novo Blue Jasmine (2013), o trabalho que chega agora ao Brasil cercado de barulho positivo pelo mundo. E com o próximo no forno, em pós-produção. Afinal, há décadas ele não falha, com um filme fresquinho todo ano, sempre alternando de médio a ótimo. O resultado deste, graças principalmente a Cate Blanchett, é dos melhores.
Aposta dada como certa para os prêmios de atuação feminina do próximo período festivo, Blanchett é magnética em todas as suas cenas, ofuscando até bons colegas de elenco, como Alec Baldwin e Sally Hawkins. Ela recebeu o Oscar de atriz coadjuvante por O Aviador (The Aviator, 2004) e teve outras quatro indicações, além de dois BAFTAs, dois Globos de Ouro e outros muitos. Sob a batuta de Allen, Blanchett constrói uma figura de várias facetas, amarga, que acredita no que prefere acreditar, com ilusões de grandeza, claramente inspirada na Blanche DuBois de Um Bonde Chamado Desejo, famosa peça de Tennessee Williams da qual o longa pega alguns elementos.
A Jasmine do título é uma socialite de Park Avenue, que é o mesmo que dizer uma esnobe da alta classe de Nova York, daquelas que se acham muito engajadas socialmente por darem festas para arrecadar fundos para alguma obra de caridade. O marido, o executivo importante Hal (Baldwin, do fraco Para Roma, com Amor, 2012, também de Allen), a mima com conforto e luxo enquanto faz seus negócios escusos. Após tudo cair por terra, ela vai com uma mão na frente e outra atrás pedir asilo à irmã, uma trabalhadora humilde que julga sempre ter sido deixada de lado por não ser a favorita dos pais (Hawkins, de Grandes Esperanças, 2012). Estando em dificuldades, é fácil lembrar da família.
Diversos personagens engraçados e autênticos cruzam a tela, todos representados por atores competentes que enriquecem o quadro. O sumido Andrew Dice Clay (de Entourage) é um exemplo, como o ex-cunhado peça rara, enquanto o atual é vivido por Bobby Cannavale (de Parker, 2013), também com muita intensidade. No meio dessa situação entra o comediante Louis C.K. em uma grata surpresa, já que trata-se de uma obra de ficção, e o elenco conta com Peter Sarsgaard (de Lovelace, 2013), Michael Stuhlbarg (de Hitchcock, 2012) e o jovem Alden Ehrenreich (de Dezesseis Luas, 2013).
A trilha sonora, como sempre quando se trata de Allen, é um caso à parte, marcada pela recorrente Blue Moon, canção que tocava quando os protagonistas se conheceram. Também responsável pelo roteiro, o diretor cuida muito bem da edição, que vai e volta no tempo dando ao público as informações necessárias para um bom entendimento da trama. Os diálogos iniciais, excessivamente expositivos, dão uma impressão errada sobre o que viria pela frente, pois logo o diretor se mostra muito hábil como contador de histórias. Allen consegue criar uma heroína antipática e dar a ela um lado trágico e até patético, o que traz nossa simpatia imediata a ela.
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Só a "reviravolta" final que não é das melhores, né?