por Marcelo Seabra
O diretor Lee Daniels está muito em evidência devido ao barulho provocado para O Mordomo da Casa Branca (Lee Daniel’s The Butler, 2013), já em exibição no Brasil. Mas seu filme anterior ainda não havia sido lançado no país, e vai chegando a algumas cidades, depois de passar pelo Festival de Cinema do Rio. Obsessão (The Paperboy, 2012) é mais um trabalho forte do ator Matthew McConaughey, à frente (ou ao lado) de um bom elenco que é prejudicado por um roteiro disperso, que abraça o mundo e parece uma colcha de retalhos.
Depois de uma bem sucedida carreira como produtor, Daniels atacou como cineasta, não recebendo muita atenção na primeira tentativa (Matadores de Aluguel, 2005). Com a segunda, Preciosa – Uma História de Esperança (Precious, 2009), ele se tornou mais conhecido e teve várias indicações a prêmios, e o longa ficou com os Oscars de Atriz Coadjuvante (para Mo’Nique) e Roteiro Adaptado (para Geoffrey Fletcher). Um elemento recorrente na filmografia de Daniels é a abordagem de questões raciais, inclusive com o envolvimento de muitos artistas negros. Em Obsessão, ele ainda misturou mais um tema ao caldo: homossexualismo. Experiências próprias devem ser uma forte motivação, já que o próprio Daniels é negro e gay.
Aparentemente, o roteiro, escrito por Daniels e Peter Dexter (autor do livro que serviu de base), coloca como protagonista Jack, jovem desajustado vivido por Zac Efron que é exatamente o personagem mais desinteressante do longa. Efron continua sem mostrar momentos de brilhantismo, ainda mais sem ajuda do texto. McConaughey (de Killer Joe, 2011) é o irmão de Jack, Ward, um repórter de Miami que volta à sua cidadezinha para investigar o caso de um condenado à morte pelo assassinato do xerife local. Hillary Van Wetter (John Cusack, de O Corvo, 2012) aguarda a execução e aceita falar com Ward na condição de poder sempre ver a sua nova namorada por correspondência, a loira fatal Charlotte (Nicole Kidman, de Segredos de Sangue, 2013). Jack vira o motorista da dupla Ward e Yardley (David Oyelowo, de Jack Reacher, 2012) e passa a conviver com Charlotte, que vira a sua obsessão. Só assim para explicar o título nacional.
Como se pode perceber pela trama, não faltam personagens, e a descrição acima está bem simplificada. John Cusack foge de seus usuais sujeitos comuns e assume uma persona desprezível, e tem ao seu lado uma Nicole Kidman sexy e debochada. Ambos estão muito bem e dividem um momento particularmente provocante, sempre lembrado em qualquer crítica. Nicole ainda tem outra cena, esta com Efron, muito comentada. McConaughey mais uma vez prova seu talento, e não será surpresa se o virmos subir ao palco da Academia – não por esse papel, mas pelo elogiado Dallas Buyers Club (2013). O veterano Scott Glenn tem uma pequena participação como o pai dos Jansen e a cantora Macy Gray assume a posição de narradora da história, a empregada Anita, que narra os fatos mesmo sem ter presenciado-os, ou mesmo ter ouvido a respeito.
A vida nos pântanos da Flórida pode ser muito interessante para quem assiste de fora, e os Jansen se envolvem com muita gente de caráter duvidoso. Mas a ambientação e os personagens não se misturam bem. Talvez, teria dado um resultado melhor como um novelão, os elementos estão todos lá. Cada um teria mais tempo para um desenvolvimento adequado e o público poderia saber melhor o que está acontecendo. E o mais importante: iria querer saber o que está acontecendo.
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