R.I.P.D. é tão morto quanto os personagens

por Marcelo Seabra

Hoje praticamente um gênero cinematográfico, as adaptações de quadrinhos costumam ter fãs cativos, que conferem a produção apenas por ser desse filão. O problema é que frequentemente os executivos não se preocupam muito com a qualidade, já que sabem ter público garantido. É assim que aberrações como R.I.P.D. – Agentes do Além (2013) vêem ao mundo. Com uma premissa engraçadinha, a trama não assume um rumo, fica megalomaníaca e só consegue aborrecer. Além, claro, de tentar ser uma cópia descarada de Homens de Preto, apenas tirando os aliens e colocando gente morta no lugar.

Baseado nos quadrinhos de Peter M. Lenkov, publicados pela Dark Horse, o roteiro revela a existência de um departamento de polícia dos desencarnados. Estes agentes (igualmente mortos) são incumbidos de trazerem sob custódia os espíritos que permanecem em negação, caminhando entre os vivos. É nesse contexto que chega o personagem de Ryan Reynolds, um policial morto em ação que precisa aceitar a oferta de reforçar a lei e a ordem do outro lado da vida. Ele é entregue a um parceiro experiente, o arredio xerife do velho oeste vivido por Jeff Bridges – uma paródia ruim de seu icônico Rooster Cogburn, de Bravura Indômita (True Grit, 2010).

Se Reynolds é apático, Bridges está no outro extremo. Ao contrário de seu falante Deadpool (de X-Men Origens: Wolverine, 2009), Reynolds realmente parece estar em outra dimensão, se aproximando mais de Lanterna Verde (2011) ou de Hannibal King (de Blade: Trinity, 2004). Sem graça nenhuma, ele serve de escada para as situações criadas pelo exagerado Bridges, que tenta se divertir em cena mesmo quando as falas são absurdas ou insossas. A dinâmica entre os dois é claramente forçada e desequilibrada, fugindo completamente do resultado inspirado de MIB. A história de amor do jovem policial Nick chega a cansar, assim como o vilão repetitivo e mal explicado de Kevin Bacon (de X-Men: Primeira Classe, 2011). Completa o elenco principal a desperdiçada Mary-Louise Parker (da série Weeds – acima), que nunca mostra a que veio.

Há de se esperar que ao menos os efeitos especiais sejam bacanas, o que não acontece. E a maioria das piadinhas pode até funcionar isoladamente, mas não contribuem com o todo – como as identidades terrenas da dupla, que não ajudam em nada nas investigações por serem tudo, menos discretas. O diretor de R.I.P.D. conseguiu um resultado muito superior em outra adaptação de quadrinhos: RED – Armados e Perigosos (2010). Robert Schwentke abriu mão de comandar a sequência de RED para assumir esse novo projeto, e sua disposição para correr riscos deve ser exaltada. Mas, com tanto esforço para fazer um novo sucesso ao exemplo de MIB, o máximo que ele conseguiu criar foi algo próximo do pavoroso Dylan Dog (2010).

Primo pobre de MIB

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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