por Marcelo Seabra
Assim como Veríssimo, os roteiristas incumbidos da adaptação são do Rio Grande do Sul, o que deve ter pesado na escolha. Como Monjardim é paulista, trouxe Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski para ajudá-lo na missão. Em frente às câmeras, poucos são nativos, o que tornou o trabalho de preparação mais árduo. O característico sotaque gaúcho, por exemplo, passa despercebido na maior parte do elenco. A exceção é Thiago Lacerda, que praticou bastante para dizer “minha prenda” com autenticidade. O esforço do ator é tamanho que até dá para perdoar certa artificialidade nos diálogos, e ele acaba sendo o destaque, mesmo cercado de bons colegas. Impecável no uniforme do mítico Capitão Rodrigo, Lacerda tem uma presença forte e dentes brancos que doem o olho.
Um dos personagens mais famosos da literatura brasileira, o Capitão Rodrigo é o estereótipo do gaúcho: machão, beberrão, com acessos de violência, mas muito manso na conversa e na jogatina. Mas o forte da trama são as mulheres, talhadas para trabalhar, esperar por seus maridos e chorar. Ana Terra, vivida na maior parte por Cleo Pires, é provavelmente a mais famosa, seguida de perto por Bibiana Terra, que é interpretada por três atrizes em fases distintas: Marjorie Estiano, Janaína Kremer Motta e Fernanda Montenegro. O grupo de atores está bem coeso, sem ninguém destoando negativamente. Estão lá Paulo Goulart, Marat Descartes, Vanessa Lóes, Luiz Carlos Vasconcelos, Mayana Moura, Leonardo Medeiros, Suzana Pires, entre muitos outros. José de Abreu, inclusive, esteve também na versão para a televisão de 1985, que teve Glória Pires como Ana Terra – agora, substituída pela filha.
Para os fãs dos livros, pode ser desapontador que outros vários personagens tenham sido deixados de fora, ou apenas mencionados e esvaziados de sua importância. Isso sempre acontece em adaptações entre mídias e é perfeitamente normal, mas muito do drama e do suspense se perdeu devido às escolhas feitas. Conhecemos os primeiros membros da família Terra e acompanhamos a passagem do tempo, descobrindo as próximas gerações, tudo muito rápido. Teria sido mais proveitoso focar em um trecho da saga, de preferência um menos conhecido, e deixar para outros cineastas e oportunidades a missão de completar a história. A velocidade com que tudo é pincelado torna a produção fria, não nos familiarizamos o suficiente com aquelas pessoas para nos identificarmos, e elas viram apenas tópicos a serem mencionados nas lembranças de Bibiana (Montenegro).
Monjardim ainda precisa dominar melhor a linguagem cinematográfica para que seus filmes não fiquem com essa cara de novela – o que já é bem provável de acontecer devido ao elenco de globais. Os diálogos e as metáforas visuais têm a sutileza de um elefante, como aquela em que a imagem de Ana Terra se funde à de uma fogueira. A fotografia, muito bonita e poética, não escapa de alguns clichês, como um contraluz com uma árvore no meio, enquanto o povo segue viagem, o que denota uma certa vontade de se tornar clássico. As cenas de guerra, inexistentes, fazem falta, já que não se pode ignorar o derramamento de sangue que marcou alguns dos períodos apresentados.
Outro ponto que causa estranhamento em O Tempo e o Vento é a conclusão com uma música estrangeira, em inglês, perdendo a oportunidade de tentar trazer um pouco de identidade ao filme. Passarim, de Tom Jobim, casou tão bem com a minissérie de 1985, e Monjardim perdeu a oportunidade de fazer algo tão marcante. Na verdade, várias oportunidades foram perdidas, e a produção ficou apenas no insosso. Mas, nem por isso, deixará de ser transformada em minissérie na Globo. Em breve, na telinha.
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Parabéns, Marcelo! Amo seus comentários ! Sinto-me envaidecida em ser sua tia. Beijos
a todos.
Muito obrigado, tia! Beijão!