por Marcelo Seabra
Houve uma época em que era considerado chique e de bom gosto assistir a filmes pornográficos no cinema. Foi quando o famoso Garganta Profunda (Deep Throat) estreou, nos idos de 1972, e tornou sua atriz principal um ícone do Cinema adulto. Linda Lovelace, como ela ficou conhecida, tem sua história contada em Lovelace (2013), cinebiografia que chega agora às telas e traz um pouco de luz sobre essa figura que muitos conhecem de nome, mas sobre quem sabe-se muito pouco.
Linda, originalmente Boreman, é vivida por Amanda Seyfried (de Os Miseráveis, 2013) de forma melancólica, como alguém que se coloca na posição de dependente de outro, como se mesmo saindo da casa dos pais, ela continuasse submissa. Essa outra pessoa, na vida adulta, seria Chuck Traynor, mais um ótimo trabalho de Peter Sarsgaard (da série The Killing), que consegue ir facilmente do amável ao ameaçador. Essa dupla principal é o centro da produção, que acompanha o relacionamento deles do início ao fim. E o elenco de apoio é uma atração à parte: cada personagem que aparece teve seu intérprete escolhido a dedo e, na tela, vemos nomes como Sharon Stone e James Franco. Citar todos seria estragar uma agradável surpresa.
Como se trata de uma história real, uma reconstituição de época se fez necessária e ela realmente coloca o público nos anos 70, em um clima semelhante ao de Boogie Nights (1997), o que faz muita diferença. Imagens de arquivo de celebridades já falecidas, como Richard Nixon e Johnny Carson, ajudam no quesito veracidade, lembrando o espectador que não se trata de ficção. Linda virou uma estrela tendo apenas um longa no currículo e, para uma menina de 22 anos aparentemente ingênua, tudo aconteceu muito rápido. Essa é a imagem que é pintada de Linda, e Traynor acaba sendo o grande responsável por suas mazelas.
Ao fazer um recorte de muitos anos, o roteiro de Andy Bellin (de Confiar, 2010) é hábil ao focar em episódios mais relevantes, deixando pouca coisa de fora. Mas o reforço constante da figura de vítima incomoda. Linda, a personagem, parece deixar muito a dever à Linda figura histórica, e fica sempre à sombra de Traynor. Ao invés de identificação, empatia ou mesmo pena, o público pode acabar com raiva dela, tamanha é a passividade da moça. Se ela de fato era assim, não tinha mesmo o que inventar. Mas parece que nós, como as pessoas que conviviam com ela, só conseguimos ver o que ela deixa, o que não é muito fundo.
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