Nova série do AMC merece uma chance

por Marcelo Seabra

O canal americano AMC tem produzido ótimas séries de televisão e batido recordes de audiência sucessivamente. A nova atração, Low Winter Sun, é mais uma aposta dos executivos para ter vida longa na programação, mas há um porém: a série já estreia com um sentimento negativo em torno dela. O AMC tem associado LWS ao fim de Breaking Bad, este um sucesso como poucos, como se uma fosse a sucessora da outra. Resultado: o público rejeita sem nem ter conferido, por pura raiva de ser forçado a gostar de algo.

Uma situação parecida aconteceu recentemente com Ray Donovan, nova série do Showtime, mesmo canal que produz Dexter, programa que chega ao fim este ano em sua oitava temporada. Só falta dizer, na publicidade, que o público não ficará órfão porque uma substitui a outra em seus corações. Comparações geralmente são um tiro no pé, o programa deixa de ter uma existência própria para viver em função do outro. Como as táticas do Showtime foram um pouco mais discretas que as do AMC, Ray Donovan não foi tão prejudicada e não perdeu tantos pontos de audiência após a estreia. Mas é isso que vem acontecendo com LWS, já em seu terceiro episódio nos Estados Unidos.

Colocar trechos de uma série durante a exibição da outra é um golpe baixo, o sujeito que acompanha as desventuras de um grupo de personagens é obrigado a conhecer o outro. Essa amostra atrasa o que ele realmente quer, e começa aí o fracasso da novidade. LWS teve 2,5 milhões de espectadores em seu primeiro episódio, e caiu para 1,46 milhão já no seguinte. De acordo com a mídia especializada estrangeira, muito disso não é culpa da série propriamente, mas dessa estratégia agressiva e inconveniente do AMC. É o mesmo que vender Equilibrium (2002) como “o novo Matrix”, o produto já chega devendo.

Low Winter Sun, seguindo a moda sombria das séries atuais, tem como protagonistas dois policiais que, logo de cara, cometem um crime. Com o andar da carruagem, descobrimos as circunstâncias que os levaram àquele ato e os acompanhamos enquanto tentam se safar. O nome mais famoso do elenco é o de Mark Strong, que costuma ser escalado como vilão (caso do Lorde Blackwood de Sherlock Holmes, 2009), mas mostra ser muito mais que um ator de um papel só. Ele inclusive viveu o mesmo personagem na série original escocesa, cujos dois episódios foram exibidos em 2006. Seu colega, Lennie James, é um coadjuvante freqüente, daqueles que conhecemos, mas não sabemos de onde – talvez, de The Walking Dead, ou 72 Horas (The Next Three Days, 2010), ou…

Se as tentativas do AMC de equiparar Frank Agnew (Strong) a Walter White (de Breaking Bad) puderem ser relevadas, a série se mostrará um passatempo interessante. Um canal que tem, além de The Walking Dead e BB, Mad Men, Hell on Wheels e The Killing não precisa desse tipo de subterfúgio para conseguir chamar público. A qualidade de seus programas está mais do que comprovada, e Low Winter Sun está aí para manter a tradição.

O elenco principal posa para foto

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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