Judd Apatow fala da vida aos 40

por Marcelo Seabra

Em 2007, o produtor, roteirista e diretor Judd Apatow criou Ligeiramente Grávidos (Knocked Up), comédia sobre um casal nada a ver, de uma noite apenas, que descobre que, depois de nove meses, haverá uma conseqüência para este encontro furtivo. Um casal coadjuvante, a irmã e o cunhado da grávida, ganham uma participação maior e, em 2012, Apatow resolveu trazê-los às telas novamente. Bem-vindo aos 40 (This Is 40) revela como anda a vida de Pete e Debbie ao chegar nessa temida idade, mantendo o mesmo tipo de humor que Apatow emprega em tudo o que faz.

Repetindo os papéis, Paul Rudd (de As Vantagens de Ser Invisível, 2012) é acompanhado por Leslie Mann (de Eu Queria Ter a Sua Vida, 2011), que é esposa de Apatow e leva as filhas junto, Maude e Iris. Ou seja: esta é uma família real, com Rudd como o alter-ego de Apatow, o que já deixa claro trazer experiências autobiográficas do marido e pai. Muitas das situações podem ser vistas como engraçadas por quem não está envolvido, o que vai garantir algumas risadas do espectador. Mas, como de costume, a maior parte desses problemas se estende ao ponto de não ser mais engraçada, chegando bem próximo do que acontece na vida das pessoas. O bom humor dá lugar ao ressentimento, à raiva, a dúvidas.

Pete é dono de uma gravadora que anda focando em artistas mais velhos que já não têm mais atenção da mídia. O que significa dar murro em ponta de faca, algo nada bom para os negócios. O cara é o seu ídolo, mas não necessariamente vai atrair público e lucro. Pete resiste a abrir a situação para Debbie, e ela tem seus próprios problemas: a loja que ela administra está sendo roubada e uma das funcionárias é a provável ladra. Em casa, nada é mais fácil: uma filha enfrenta a chegada conturbada da menstruação e o crescente interesse por meninos, enquanto a mais nova se sente deixada de lado.

As figuras que cercam os protagonistas são um caso a parte. Há diversos atores, entre veteranos e outros mais novos, que roubam os momentos em que estão em cena, começando pelos “pais” Albert Brooks (de Drive, 2011) e John Lithgow (de Os Candidatos, 2012). Um é o extremo do outro, mas têm em comum os desafios conjugais com esposas mais jovens e filhos pequenos. Tatum O’Neal, Lena Dunham, Chris O’Dowd, Megan Fox, Jason Segel e Robert Smigel são alguns dos nomes vistos, além dos cantores Ryan Adams, Billie Joe Armstrong e Graham Parker. A aborrecida Melissa McCarthy, do deplorável Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011), ganha uma ponta interessante.

Apatow já está em seu quarto longa como diretor (tem também O Virgem de 40 Anos, de 2005, e Ta Rindo do Quê?, de 2009) e mantém sempre o mesmo tipo de abordagem. Ele procura mostrar personagens críveis, com problemas que podemos enfrentar no dia a dia, mas acaba exagerando os contextos e prolongando situações até chegarem a ser irritantes. O resultado é bastante irregular e até cansativo. Piadas com a finada série Friends (da qual Rudd participou) e com a condição de Midas da TV de J.J. Abrams não são o suficiente para segurar a peteca no ar. E durar mais de 130 minutos não ajuda.

O diretor leva a família à estreia

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Assisti hoje. Curti ver os atores de Lost e How I met your mother e achei o filme legal também!

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