por Marcelo Seabra
Criar uma atmosfera de suspense não é das tarefas mais simples, e muitos longas são prejudicados exatamente pela falta de uma. Outros podem sofrer pela falta de conteúdo, primando apenas pela atmosfera. É a vitória da forma sobre a essência, e é disso que sofre Segredos de Sangue (Stoker, 2013), obra que marca a estreia do coreano Park Chan-wook em Hollywood. Muitos creditam a falta de audácia do filme às amarras que certamente os produtores impuseram ao diretor, que se mostrou mais corajoso e coerente em sua famosa trilogia da Vingança.
Claramente inspirado por Hitchcock e seu A Sombra de uma Dúvida (The Shadow of a Doubt, 1943), Wentworth Miller (mais conhecido como o Michael de Prison Break) escreveu a história de uma família bem incomum. Com frequência, algumas pistas são jogadas e levantamos certas suspeitas sobre aqueles personagens, mas as expectativas morrem na praia. O título original, Stoker, é o sobrenome da família, e uma referência óbvia ao autor de Drácula, Bram Stoker. Não se trata de vampiros, como Miller reforçou em entrevistas, mas de uma metáfora para a pessoa que alimenta o fogo em uma fornalha, o “stoker”, em inglês.
Assim como em A Sombra de uma Dúvida, temos uma garota na transição para o mundo adulto (Mia Wasikowska, de Os Infratores, 2012) e a chegada de um tio Charlie extremamente suspeito (Matthew Goode, de Direito de Amar, 2009). Charlie resolve voltar e passar um tempo com a cunhada (Nicole Kidman, de Reféns, 2011) e a sobrinha pela ocasião da morte do irmão, Richard (Dermot Mulroney, de A Perseguição, 2011). As coisas começam aí, e passamos a conhecer um pouco melhor aquelas pessoas, quando também começam a surgir suspeitas.
Depois de levantar algumas possibilidades, o roteiro simplesmente vai avançando sem esclarecer muita coisa, chegando a um final descabido. O clima de suspense é muito interessante, usando uma mansão cheia de sombras e conversas proibidas, mas a ambivalência sugerida não chega a lugar algum. Por que Charlie é mostrado como um ímã sexual, que atrai até as colegiais? Temos mesmo que acreditar que Goode é assim tão irresistível? E o passatempo favorito de pai e filha, tinha uma razão ou era só uma opção do pai? E a ligação entre sobrinha e tio, o que tinha de tão especial?
Há momentos em que é certo que alguém mostrará os dentes caninos protuberantes. Em outros, era questão de segundos até que Dexter, o psicopata mais legal da TV, aparecesse. O final deixa uma sensação de promessas não cumpridas, e de desperdício: Wasikowska e Kidman estão muito bem como mãe e filha, elas têm uma ótima sintonia. Pena que suas ações parecem fugir de uma lógica, apenas cumprindo tabela. Chan-wook se sai melhor quando tem mais liberdade criativa, quando o roteiro é dele e quando trabalha com seus compatriotas.
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