por Marcelo Seabra
A vida na universidade é um tema extremamente explorado no Cinema, principalmente no americano. Em qualquer gênero, sendo comédia e terror os mais freqüentes, as questões desenvolvidas são sempre as mesmas: diferenças, aceitação, bullying, superação, competição, amadurecimento. Ao pensarem no que poderiam fazer para aproveitarem o sucesso de Monstros S.A. (Monsters, Inc.), de 2001, os criativos da Pixar concluíram que uma solução seria uma pré-continuação, mostrando como os protagonistas se conheceram durante seus anos de formação. Mais de uma década depois, sai Universidade Monstros (Monsters University, 2013), uma animação nada inovadora que deve agradar às crianças, e só.
O universo criado no primeiro filme dá liberdade para os mágicos da Pixar criarem os mais variados monstros, muitos deles bastante simpáticos e coloridos, e encaixá-los nas tribos que geralmente podem ser encontradas em uma universidade. Até o hippie que fica no gramado tocando violão aparece. Não faltam atletas, mocinhas, nerds, desajustados, góticos e todos os tipos de adolescentes que pudermos pensar. Claro que cada um com suas características marcantes, já que não estamos falando de humanos. É na Universidade Monstros que o futuro deles é definido, pelas habilidades demonstradas dentro das funções que eles têm.
O curso mais disputado é o Assustador, que formará monstros aptos a assustarem crianças humanas. O susto gera a energia que mantém o mundo deles funcionando. Quem não consegue assustar vai para um trabalho mais burocrático, como criar as portas usadas entre os mundos ou cuidar dos cilindros que armazenam os sustos. É para o curso de Assustador que se matricula Michael “Mike” Wazowski, um monstrinho verde que desde pequeno sonha em assustar crianças e trabalhar ao lado de seus ídolos. É para lá que vai também James “Sulley” Sullivan, um grandão de família nobre com talento natural para assustar, ao contrário do colega. Com cada um assumindo um estereótipo do mundo colegial, o talentoso e o esforçado, eles não poderiam mesmo ser amigos.
O clichê dos clichês fará com que aqueles dois seres de bom coração, mas muito diferentes um do outro, se aproximem: uma competição. Eles são expulsos do tão almejado curso e têm, como última esperança, um concurso de sustos que poderá reabilitá-los. A cada prova, um time é desclassificado e já sabemos onde isso vai dar. Carros (Cars, 2006), outro trabalho menor do estúdio, trazia à mente imediatamente Doc Hollywood (1991), aquela despretensiosa comédia com Michael J. Fox sobre um médico sabichão que era obrigado a ficar numa cidade pequena. Em Universidade Monstros, várias produções podem ter servido como inspiração, de A Vingança dos Nerds (Revenge of the Nerds, 1984) a A Casa das Coelhinhas (The House Bunny, 2008). No visual, não dá para esquecer dos Muppets – o Art, por exemplo, parece uma mistura do Animal com o Zed, de Loucademia de Polícia (Police Academy, 1984).
À frente da equipe de pobres coitados, Mike deve fazer com que todos superem suas limitações para ganharem a disputa e terem de volta a vaga no curso. E, de quebra, darem uma lição na fraternidade dos atletas valentões. Sobram lições de moral e discursos motivacionais, mas falta graça. Para uma animação que se pretende uma comédia, esse é um pecado capital. Seria uma influência negativa da Disney? Os cenários criados são ótimos, muito criativos e condizentes, e há até um trecho no final que faz uma homenagem a filmes de terror – muito adequada, tendo em vista a natureza dos personagens. Mas rir é algo que não acontece. Como, mesmo assim, já são mais de 150 milhões de dólares arrecadados pelo mundo, esperemos por mais produções com Mike e Sulley.
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