por Marcelo Seabra
Para quem é conhecido por ter um estilo espalhafatoso, com cenários muito coloridos e grandiosos, nada mais apropriado para Baz Luhrmann que adaptar para o Cinema o livro O Grande Gatsby (The Great Gatsby), de F. Scott Fitzgerald, que chegou aos cinemas esta semana. Desde 2008 sem lançar um longa-metragem, ano de lançamento do bombardeado Austrália, o diretor não correu riscos: chamou um elenco fantástico, encabeçado por Leonardo DiCaprio, e buscou uma história clássica e admirada há décadas, já adaptada outras quatro vezes.
Publicado em 1925, o livro é uma crítica dura ao estilo de vida dos ricos e famosos da Nova York do começo do século. Apesar de Fitzgerald sempre escrever sobre esse universo glamoroso e deixar claro sua admiração por ele, o escritor não deixa de apontar a futilidade e o materialismo que dominavam. Aparências eram muito importantes, mais que o conteúdo, e muitas vezes havia envolvimento de pessoas da alta sociedade com criminosos, que se misturavam por serem ricos e poderosos. Até por isso, as festas eram regadas à bebida contrabandeada, já que se trata da época da Lei Seca. As famílias importantes eram inatingíveis e casamentos eram arranjados entre elas, tornando impossível misturar classes.
A trama do filme é narrada por Nick Carraway (Tobey Maguire, da trilogia Homem-Aranha), um corretor e um aspirante a escritor que se torna amigo e confidente do misterioso Jay Gatsby (DiCaprio, visto recentemente em Django Livre, 2012). Conta-se, entre a alta classe, várias histórias a respeito de Gatsby, o que é ainda mais alimentado pelo fato de o milionário dar festas freqüentes e inimagináveis em sua nababesca mansão, para quem quisesse ir, e ele próprio não comparecia, ou passava discretamente entre os animados freqüentadores. O narrador é convidado por Gatsby, que começa a se aproximar dele por uma razão bem específica: Carraway é primo da bela Daisy (Carey Mulligan, de Shame, 2012). Suas motivações serão apresentadas posteriormente, assim como outros personagens importantes, como o playboy bem nascido e pouco confiável Tom Buchanan (Joel Edgerton, de Guerreiro, 2011), o mecânico George Wilson (Jason Clarke, de A Hora Mais Escura, 2012) e a sra. Wilson (Isla Fisher, de Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, 2009).
Da mesma forma que fez nos queridos pelo público Romeu + Julieta (1996) e Moulin Rouge (2001), Luhrmann usou músicas atuais, com arranjos adequados para a situação, o que fez muitos torcerem o nariz. É bem estranho, em uma história marcada pelo jazz, ter o rapper Jay-Z como produtor executivo da trilha sonora. O diretor é só elogios ao músico, e diz que ele entendeu exatamente a ideia ao montar a trilha, usando artistas como Lana Del Rey, Jack White, Beyonce e Andre 3000. Versões estranhas em cenas nem sempre apropriadas, com o hip hop ocupando o lugar que originalmente era do jazz. Entre críticas positivas e negativas, o disco vai chegando à segunda posição entre os mais vendidos da Billboard, com projeção de venda de mais de 100 mil cópias.
Apesar de alguns momentos mais tediosos, o longa se segura a maior parte do tempo, com 142 interessantes minutos e, pode-se dizer, ainda mais fiel ao livro que a famosa adaptação de 1974, estrelada por Robert Redford e Mia Farrow. O passado de Gatsby é melhor explicado, assim como as ações dos personagens, e tudo fica mais claro para o público. Com personagens mais profundos, fica mais fácil compreendê-los, e os intérpretes são sempre ótimos. O destaque não poderia ser outro além de DiCaprio. Sua obrigação de ser sempre um cavalheiro, com gestos quase afeminados e maneirismos repetidos à exaustão, dão uma perfeita ideia da insegurança e necessidade de aceitação que acometem Gatsby, mesmo tentando aparentar o contrário. Mulligan também mostra um trabalho impecável, construindo uma Daisy que precisa ser, ao mesmo tempo, volúvel e apaixonante. Com esta obra, Luhrmann faz com que torçamos para que sua próxima não demore mais cinco anos.
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