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Aquele não foi o último exorcismo, este será?

por Marcelo Seabra

Quando lançado, em 2010, O Último Exorcismo (The Last Exorcism) dividiu a crítica, mas conseguiu um bom resultado financeiro. Para um filme que não gastou nem dois milhões de dólares, ganhar mais de 67 milhões é fantástico. Mesmo dando a impressão clara de ter sido pensado para ser só aquilo e pronto, como o título confirma, uma sequência teria que acontecer. As soluções encontradas foram colocar um Parte 2 na frente, para não ser o segundo último exorcismo, e abandonar o estilo de filmagens encontradas, passando ao convencional.

Os grandes méritos do primeiro filme (como relatado aqui), eram ter um protagonista forte e interessante (o pastor Cotton Marcus de Patrick Fabian) e um clima de suspense e de dúvida, se tudo estaria ocorrendo mesmo ou se seria apenas mais uma fraude. Neste Parte 2 (2013), a mesma Ashley Bell (ao lado) volta como a traumatizada Nell, uma menina bobinha, para quem tudo parece ser novidade. Ela certamente tem um lado bom e um lado escuro e o demônio se apresenta logo de cara. Na introdução, desnecessária, já fica estabelecido o que acontecerá, e algumas cenas do primeiro filme são resumidas no início para ninguém ficar na mão. Não que seja muito necessário contextualizar: a menina passou por um exorcismo, tentam convencê-la de que foi tudo ilusão da cabeça dela, e a família morreu toda, além dos demais envolvidos nas filmagens do episódio anterior. “Mas nada daquilo foi real”, diz o dono da pensão onde ela está hospedada, alguém que parece vagamente ser um psicólogo. “Não sou louca, acredite em mim”, responde a menina. Uau!

Os clichês mais dispensáveis do gênero multiplicam-se, como barulhos e luzes estranhas, visões, vozes alteradas e aparelhos que ligam sozinhos. Já que a menina é branquinha, ruiva e ingênua, não poderia faltar uma menção a Carrie, A Estranha (1976), com facas voando. A metáfora da adolescência ser representada pela possessão vai pro espaço, assim como qualquer profundidade para os personagens, que inexiste. Nell faz caras suspeitas, que dão a entender que há algo errado, e na maioria das vezes não acontece nada. As colegas de pensão são bastante inúteis também, servindo à conveniência da história. Os efeitos de som são ruins, com gritos altíssimos, e as imagens abusam da escuridão, além da câmera ficar tímida quando cenas de violência se aproximam. Se o público alvo é a garotada, a censura não poderia ser alta.

O Último Exorcismo 2 é o tipo de filme que não deveria existir e ainda enfraquece o primeiro, para quem gostou. Toda a complexidade anterior é abandonada e o fraquíssimo roteiro do inexperiente Damien Chazelle e de Ed Gass-Donnelly, também diretor, apela a sustos vazios constantes, tentando movimentar os momentos chatos e cansativos que marcam a produção. Muitos destes sustos seriam causados por fatos que só existem na cabeça de Nell, mas eles relembram o tempo todo que o tal demônio Abalam espreita. Ah, e o demônio pode estar apaixonado, é bom ressaltar. Para o espectador, não há medo ou receio, é questão apenas de sentar e esperar que tudo chegue ao final. Final este que tenta ser descolado, original, mas é previsível e ruim. Só isso. E oremos para que não nasça uma franquia daqui.

“Olha que vídeo legal, nossa colega estava possuída!”

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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