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Tucker e Dale desafiam os filmes de terror

por Marcelo Seabra

Alguns filmes nunca chegam a ter o destaque que merecem. Por falta de fé no desempenho ou de verbas para divulgação, distribuidoras mandam ótimas obras direto para as prateleiras e muita gente fica sem conferir uma pérola como Tucker e Dale Contra o Mal (Tucker and Dale Versus Evil, 2010), ou leva dois anos para conseguir fazê-lo, como é o caso. A falta de um nome de peso torna a aposta em um grande lançamento arriscada, mesmo quando trata-se de uma brincadeira bem humorada e bem sucedida com filmes de terror.

Elencar os clichês de certos gêneros é fácil, basta ser um pouco observador. A série Pânico (Scream) propôs avacalhar longas de suspense e terror e é assinada por um dos pais do filão, Wes Craven, além do roteirista então em ascensão Kevin Williamson. O resultado foi muito dinheiro em caixa e uma franquia de quatro filmes – que já perderam o fôlego há muito tempo, diga-se de passagem. O estreante Eli Craig foi mais longe por entender que, para parodiar, é preciso escrachar logo e não se levar a sério. Os protagonistas, Alan “Tucker” Tudyk (de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, de 2011) e Tyler “Dale” Labine (de Planeta dos Macacos: A Origem, de 2011), se encaixam muito bem no tipo necessário, o caipira inocente e trapalhão, e tornam as coisas muito divertidas.

Tucker e Dale são dois trabalhadores humildes que esperam gozar de merecidas férias em uma cabana capenga no meio do mato que acaba de ser comprada por Tucker. Na mesma vizinhança, um grupo de universitários se diverte na casa do lago de um deles. É óbvio que os dois grupos vão ter conflitos, mas não pelos mesmos motivos de sempre, e com consequências hilárias. Mais ou menos parecido com o que fez o recente O Segredo da Cabana (The Cabin in the Woods, 2011), para citar outro caso de transgressão de “regras” de um gênero cinematográfico.

É comum, independente do enfoque, ver no cinema lutas de classes e entre grupos com interesses diferentes. Casos extremos podem ser vistos em Amargo Pesadelo (Deliverance, 1972) e Sob o Domínio do Mal (Straw Dogs, 1971), ambos sobre moradores de cidades grandes em embates com locais em uma cidadezinha. Para filmes de terror, esse cenário é um prato cheio, apesar do preconceito que dissemina e da tendência a clichês e exageros, como no clássico O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974) e na horrorosa refilmagem Doce Vingança (I Spit on Your Grave, 2010). Tucker e Dale passam por esse problema, mas não são os caipiras usuais que partem para a ignorância. Ao contrário, eles são as vítimas.

A inversão de papéis no criativo roteiro de Craig, que também assina a direção, é o grande diferencial de Tucker e Dale Contra o Mal. Os lugares-comuns de um filme de terror vão aparecer, não da forma esperada, inclusive com muito sangue, mas a violência é exagerada e tratada com humor. Assim, pessoas mais sensíveis não se sentirão mal nas cenas grotescas, pelo contrário: vão dar risadas.

Todo “filme de cabana” tem que ter jovens pro abate

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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