Ferrugem e Osso traz um relacionamento real e atual

por Marcelo Seabra

De histórias de amor, o Cinema está cheio. De vez em quando, vemos algumas inovações interessantes, que fogem das figuras idealizadas do filme padrão americano. Um bom exemplo é o francês Ferrugem e Osso (De Rouille et D’os, 2012), um drama com um tom bem realista, inclusive tendo a crise econômica da Europa afetando os personagens. O diretor Jacques Audiard, do elogiado Um Profeta (Un Prophète, 2009), realiza mais uma obra forte, moderna e bem feita. E ajuda ter a premiada e linda Marion Cotillard no elenco. Pena que uns poucos sortudos têm a chance de ver o longa, que demorou tanto a chegar ao Brasil e, ainda assim, em pouquíssimas salas.

Baseado em um conto do canadense Craig Davidson, o roteiro de Audiard e Thomas Bidegain, também de O Profeta, nos apresenta a Ali (Matthias Schoenaerts, de A Gangue de Oss, 2011), um pai divorciado que chega à cidade onde mora a irmã para passar uns tempos com ela. Com o garoto indo a uma escolinha próxima, ele consegue arrumar um emprego como segurança de boate e, casualmente, conhece Stéphanie (Marion), uma treinadora de baleias de um parque aquático. Um acidente fará com que os dois se aproximem, sempre de forma bem fluida e natural, sem forçar a barra. Enquanto isso, Ali encontra outras formas para ganhar dinheiro, envolvendo-se com lutas ilegais, e Stéphanie procura adaptar-se à nova vida.

Há violência e há sexo, elementos que costumam atrair público facilmente. Mas também temos belas histórias sendo contadas, reforçadas por ótimas atuações dos dois protagonistas. Os personagens estão longe de serem perfeitos ou infalíveis, e Marion e Schoenaerts acertam o tom deles. O relacionamento deles tem o melhor e o pior do que vemos por aí. As relações têm se tornado mais superficiais, os parceiros mudam rápido, um envolvimento emocional é cada vez mais difícil. Assim, as coisas andam a passos lentos com Ali e Stéphanie, ora parecendo muitos próximos, ora como estranhos. E ninguém fala nada sobre exclusividade. Tudo muito atual.

Apesar de ter sido lançado fora em maio de 2012, Ferrugem e Osso só chega comercialmente ao Brasil agora, quase um ano depois. Nesse meio tempo, foram vários festivais pelo mundo, incluindo o do Rio. Não foi a toa que Ferrugem e Osso foi indicado a diversos prêmios, principalmente nas categorias Melhor Filme, Diretor e Atriz. Marion, que já ganhou um Oscar por sua versão de Edith Piaf, de 2007, não teve muita oportunidade de mostrar serviço no terceiro Batman de Christopher Nolan, mas tem outros vários papéis que comprovam o seu talento. Ela consegue passar emoções sem fazer esforço, mesmo que esteja impossibilitada de usar todo o corpo, como é o caso aqui. Atores que vivem personagens com deficiências físicas ou doenças acabam ganhando destaque, e Marion aproveita bem a oportunidade. E Schoenaerts acompanha bem, vivendo um brutamontes capaz de gestos de extrema delicadeza. Os dois compõem figuras tridimensionais interessantes de se acompanhar e de se deixar envolver.

O casal apresenta o longa em Cannes

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Recomendo vivamente o seu blog/site.
    Achei-o de excelente qualidade.
    Obrigado
    Ana

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