por Marcelo Seabra
O diretor François Ozon, de longas como Swimming Pool (2003), 8 Mulheres (2002) e Potiche, adapta uma peça de Juan Mayorga que mistura assuntos intrigantes como obsessão e privacidade e as dualidades entre arte e literatura, realidade e ficção. Pelo fato de ser um filme francês, é interessante perceber que as referências usadas pelo professor não são os habituais Dickens, Hemingway ou Poe, mas Flaubert e La Fontaine. Germain é um sujeito extremamente erudito, mas frustrado por não fazer parte da turma de escritores que idolatra. Claude pode ser uma espécie de projeto pessoal, a projeção do sucesso editorial que nunca teve.
O jovem Umhauer é quase um estreante no cinema, com apenas O Monge (Le Moine, 2011) no currículo, e já convence. Seu Claude é misterioso, curioso e manipulador, levando o incauto Germain a atitudes impensadas. Sua escrita é tão envolvente que o limite entre ficção e realidade fica enevoado e ficamos à mercê do escritor de primeira viagem. Professores sabem como é bom ter um aluno que se dedica à lição, e Germain se torna um cúmplice, e um personagem. Para o espectador, não é diferente: acompanhamos um roteiro que segue as convenções ditadas por seu protagonista e somos levados junto para dentro da casa dos Rapha. O final, claro, não poderia ser outro, mesmo sendo surpreendente, como recomenda o mestre.
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