Hannibal Lecter ganha nova vida na TV

por Marcelo Seabra

Ele foi eleito pelo American Film Institute o maior vilão do Cinema. Rendeu um Oscar a Anthony Hopkins, uma sequência, dois longas baseados no mesmo livro, um filme de origem e, agora, chega à TV. Hannibal Lecter, criação do escritor Thomas Harris, mantém sua usual posição de coadjuvante, mas sempre rouba a cena. Em Hannibal (2013), produção exibida pela NBC nos EUA e que acaba de chegar ao AXN, ele acaba de conhecer o agente que o prenderia no futuro. Trata-se de “como tudo começou”.

O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991 – ao lado) e Hannibal (2001) foram o suficiente para que Lecter fosse votado pelo AFI, em 2001, como o “Mais Memorável Vilão da História do Cinema”. Na primeira história, Dragão Vermelho, levada aos cinemas duas vezes (Manhunter, 1986, e Red Dragon, 2002), descobrimos como se deu sua captura pelo agente Will Graham (William Petersen/ Edward Norton). Mas por que parar agora se podemos faturar um pouco mais? Harris assinou um contrato de oito dígitos para mais dois livros da série. O primeiro, Hannibal – A Origem do Mal, foi filmado imediatamente após o lançamento (Hannibal Rising, 2007), e o próximo deve seguir a cronologia de Hannibal (de 2001).

A série de TV, criada por Bryan Fuller (produtor e roteirista de Heroes e Pushing Daisies), evita a armadilha de colocar o sociopata como vítima de situações que o levaram a perder a sanidade, caso da aberração de 2007. Ela precede o primeiro livro com o personagem, Dragão Vermelho, e narra episódios vagamente mencionados antes. Vivido pelo ótimo Mads Mikkelsen (de 007 – Cassino Royale, 2006), Lecter é um psiquiatra brilhante procurado pelo FBI para dar suporte psicológico ao agente especial Will Graham (Hugh Dancy, de Histeria, 2011) durante uma intricada investigação. Graham supostamente tem um tipo leve de autismo, quase um transe, que permite que se coloque no lugar do assassino que procura, algo muito além de analisar pistas e traçar perfil, o que o torna único para o bureau. Ele só deve tomar cuidado para não entrar demais e sacrificar sua própria saúde. Laurence Fishburne, que fazia um papel parecido em CSI, é o chefe de Graham.

Para aliviar sua mente e entender seus sentimentos, Graham se consulta com Lecter, que acaba ajudando-o na investigação. Como as teorias acabam fazendo parte das sessões, Lecter passa a ter informação privilegiada. Não haveria nenhum problema aí, se não soubéssemos que trata-se de um monstro mais perigoso que os procurados pelo FBI. O mais divertido é que o espectador entende tudo quando vê Lecter sentado à mesa se deliciando com uma iguaria preparada com esmero, enquanto um outro personagem diria trata-se de carne de porco. Ele ainda não ganhou o apelido de Hannibal, o Canibal.

Focar em psicopatas, especialmente nos carismáticos, parece ser uma moda atual da TV americana. Seria um próximo passo, depois de tantos anos de séries sobre investigações criminais, como Law and Order, CSI, Criminal Minds e as várias encarnações de Sherlock Holmes. The Following, por exemplo, traz um escritor psicótico, refinado e erudito que cria uma seita e desenvolve uma estranha relação com o agente que o persegue. Norman Bates, de Psicose (1960), é um personagem igualmente famoso (o número 2 para o AFI) que tem seus anos de formação contados em Bates Motel. E Dexter, que vai para sua derradeira temporada, dispensa apresentações. Hannibal Lecter chega para abrilhantar essa lista e nos fazer mais uma vez torcer por um sujeito longe de ser herói.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • “Mais Memorável Vilão da História do Cinema”
    Concordo plenamente! Eu ainda tenho medo dele, posso assistir mil vezes e ainda terei medo como se fosse a primeira vez. Gosto muito de todos os filmes... Um clássico memorável.

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