por Marcelo Seabra
Famílias disfuncionais sempre existiram e nunca vão deixar de existir. Na pré-história, já conhecemos algumas, como Os Flintstones e a Família Dinossauro. A DreamWorks agora nos apresenta àquela que deve ser a primeira família humana a ter suas aventuras narradas – ao menos, em 3D. Os Croods (The Croods, 2013) acompanha pai, mãe, filhos e a sogra tentando sobreviver em meio a animais estranhos e perigosos e sem ninguém mais para ajudar ou mesmo para conversar, já que todos os vizinhos foram dizimados. Diversão garantida para crianças e adultos.
Os Croods conseguem durar tanto tempo porque o pai, Grug, cria regras que devem ajudá-los a vencer as mazelas daquele mundo. O problema é que essas regras limitam demais a vida deles, que se resumem a ficar dentro da caverna e só sair para buscar comida, jornada mostrada como uma espécie de partida de futebol americano cujo prêmio é o café da manhã, e um movimento em falso pode custar a vida. A rotina é agoniante e ter uma filha adolescente, nessas horas, dificulta tudo. Eep é a rebelde que gosta de escalar (há um momento “Missão: Impossível”), passear e descobrir coisas, exatamente o contrário do que o pai recomenda. “A curiosidade é ruim”, diz ele, buscando manter a prole por perto. Mas ela, como acontece em Valente (Brave, 2012), não se contenta com o papel de boazinha.
Entre em confronto e outro com o pai, Eep um dia encontra um garoto errante que traz uma novidade que poderia mudar tudo: Guy consegue fazer fogo. Ele ainda traz outra notícia impactante: o mundo deles não vai durar muito tempo da forma como eles conhecem. As placas tectônicas parecem estar se ajeitando e terremotos são comuns. Guy vai mudar as vidas dos Croods e o brutamontes Grug encontra nele o seu oposto, clara metáfora sobre o futuro que bate à porta. Metáforas, inclusive, são abundantes: sobre adolescência, relacionamentos, mudanças, tempo… Mas a animação nunca fica chata, dando lições ou algo assim. Os bichinhos em cena ajudam muito com tiradas engraçadas, assim como a velha Gran, sogra de Grug, que deveria se chamar Highlander. Os traços selvagens dos personagens, que não chegam a ser estúpidos como os Gogs (1994), mas estão longe dos sociáveis e desenvolvidos Flintstones, também causam risadas quando são ressaltados, principalmente na filha mais nova, um bebê nada frágil que mais parece um cachorro de estimação.
À frente de Os Croods, estão dois animadores experientes: Kirk De Micco estreou na direção com Space Chimps – Micos no Espaço (2008) e escreveu outras várias produções, como Deu Zebra! (2005); Chris Sanders trabalha com a Disney há anos (Aladdin, O Rei Leão…) e assumiu o comando de Lilo & Stitch (2002), tendo também assinado o simpático Como Treinar o Seu Dragão (2010). De Micco e Sanders criaram a história, roteirizaram e dirigiram Os Croods e demonstram muita maturidade. Tudo é muito bem amarrado, a animação é fantástica e a terceira dimensão é interessante para dar profundidade às ricas paisagens e os animais e plantas que a povoam.
Tratando-se de uma animação, um problema já era anunciado: só há cópias dubladas na maioria das cidades (se não no país inteiro). Não adianta ter Nicolas Cage (Grug), Emma Stone (Eep), Ryan Reynolds (Guy), Catherine Keener (Ugga) e Cloris Leachman (Gran) no time de dubladores, no Brasil a equipe é toda substituída e só podemos conferir as vozes originais nos trailers disponíveis na Internet. Se isso já vem ocorrendo com dramas e suspenses com atores, imagine com desenhos! O desrespeito com o público, que não tem possibilidade de escolha, é gritante. Mesmo que a dublagem nacional seja bem feita, a obra não foi feita com ela. E passa batido para o público tupiniquim que Nicolas Cage tenha conseguido fazer um bom filme, em meio a esta maré ordinária em que ele anda.
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Sem problemas!