por Marcelo Seabra
Das estreias dessa semana, duas têm títulos genéricos e andamentos arrastados, mas as direções são opostas. A Fuga (Deadfall, 2012) é um policial americano que pretende ter o estilo noir, mas acaba sendo apenas violento e aborrecido, enquanto A Busca (2012) é vendido como um thriller nacional quando é, na verdade, um drama sobre o crescimento pessoal de um sujeito que vai ao encontro do filho que sumiu de casa. Certamente, vão atrair públicos diferentes e a aceitação também vai variar bastante.
A família de Jay mora quase no limite entre os países e Liz pretende seguir com ele até lá, onde poderia encontrar Addison para que eles fugissem para o Canadá. Então, é apresentado o casal Mills: a mãe (Sissi Spacek, a eterna Carrie, a Estranha) é doce e compreensiva, e o pai (Kris Kristofferson, o ajudante do Blade) é arredio e empacado. Os homens Mills têm uma pendenga entre eles a resolver e o acerto de contas vai unir todos os personagens em um jantar de ação de graças dos infernos. As condições climáticas são sempre tão ruins que é difícil entender a geografia do lugar. Fácil mesmo é prever o final, que chega sem surpresas.
O inexperiente Zach Dean escreveu um roteiro inexpressivo, sem emoção ou empatia pelos personagens. Tanto faz quem morre – se acabar rápido, melhor. E de fato o filme é curto, o que pode ser seu maior acerto. O austríaco Stefan Ruzowitzky (de Os Falsários, 2007) mostra que lida melhor com dramas que com uma história policial que tenta beber nas fontes clássicas. Ele insere alguns elementos-chave, como violência, sexo e assassinatos, mas passa longe de fazer algo relevante. O bom elenco é o único atrativo deste A Fuga, mesmo que o texto não permita a ninguém ter arroubos de genialidade.
Reforçando o bom e recente caldo brazuca, o cineasta de primeira viagem Luciano Moura reuniu verba de vários patrocínios, inclusive do pólo cinematográfico de Paulínia e da Globo Filmes, para realizar A Busca, com um orçamento total de R$ 5 milhões. Para criar interesse pelo longa, chamou Wagner Moura para o papel principal. O ator já mostrou várias vezes ser mais que “apenas” o Capitão Nascimento de Tropa de Elite (2007 e 2010) e se firmou como o provável melhor ator do nosso cinema atual. Graças à presença dele, muita gente deve conferir a obra. O ritmo lento pode ser um complicador para o público, mas o grande problema são as pontas soltas relacionadas aos personagens. A participação de Lima Duarte, por exemplo, fica flutuando, sem qualquer tipo de aprofundamento ou propósito.
Luciano Moura, que não é parente de Wagner, faz sua estreia na direção de um longa-metragem e conseguiu espaço no Festival de Sundance, do Rio e na Mostra de São Paulo. O título A Cadeira do Pai foi abandonado por este besta A Busca, que é provavelmente mais comercial e ajudaria mais a trazer espectadores. Resta saber como serão as críticas, já que o lado positivo e o negativo praticamente se equilibram. A movimentação incessante do protagonista, sempre passos atrás do filho, acaba cansando, mas Wagner Moura é um talento que merece ser acompanhado.
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