Oz revisita o caminho de tijolos amarelos

por Marcelo Seabra

Um lugar qualquer, acima do arco-íris, esconde uma terra de que só se ouviu falar em canções de ninar. Essa, claro, é a descrição mais apropriada da terra de Oz, apresentada no clássico O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939) e revisitada agora em Oz: Mágico e Poderoso (Oz the Great and Powerful, 2013), produção que marca a estréia do diretor Sam Raimi no mundo 3D. Para essa empreitada, ele chamou James Franco, com quem trabalhou na trilogia do Homem-Aranha, e completou o elenco com três lindas bruxas: Mila Kunis, Rachel Weisz e Michelle Williams. Nada como ter um generoso orçamento de US$ 200 milhões!

Como trata-se da história anterior à obra de 39, a maior parte do trabalho seria respeitar tudo o que já havia sido estipulado, o que o filme assinado por Victor Fleming definiu. Há um respeito pela obra original, que aparece na manutenção de certas características, como o contraste entre a poeira e a falta de cores do Kansas e a exuberância da nova terra; e a atmosfera de sonho que envolve a aventura, reforçada pelo uso dos mesmos atores em personagens diferentes nos dois mundos. E um certo Sr. Baum é mencionado, homenageando o criador desse mundo, L. Frank Baum, cujo livro entrou de tal forma na cultura americana que passou a ser referência constante no mundo pop. Essa semana, por exemplo, Elton John passeou pelo Brasil cantando Goodbye Yellow Brick Road, um de seus maiores sucessos, inspirado pelo caminho de tijolos amarelos do filme.

Oscar Diggs, ou Oz (Franco), aqui é ainda um mágico picareta de parques de diversão que vive a galantear garotas e ganha a vida com truques baratos de ilusionismo. Um belo dia, escapando de suas constantes enrascadas, ele é pego por um tornado e vai parar na terra de Oz. Lá, ele descobre que uma profecia local prevê que um mágico poderoso homônimo ao lugar vai chegar e libertar todos do domínio da bruxa maligna que reina. Ele conhece então três bruxas e precisa descobrir quais são as reais intenções delas: as personagens de Weisz (de O Legado Bourne, 2012), Kunis (de Ted, 2012) e Williams (de Sete Dias com Marilyn, 2011). Claro que teremos algumas lições de moral, mas elas vêm no meio de situações divertidas, o que normalmente é tachado de “entretenimento para a família”. Este rótulo normalmente tem uma conotação negativa, mas não é o caso.

No quesito personagens, Oz, o principal, é sempre um canastrão propositalmente. Franco precisava de um pouco mais de charme para convencer, mas não causa nenhum embaraço. As três atrizes cumprem bem as suas obrigações, indo até onde o roteiro permite, já que as bruxas não têm muita profundidade. Não se desenvolve o histórico delas, com apenas algumas informações jogadas no ar. Quem rouba a cena são os coadjuvantes não-humanos, que curiosamente parecem ter mais emoções que qualquer outro. O macaquinho alado e a menininha de porcelana são ótimos e respondem por momentos engraçados e ternos, com boas dublagens de Zach Braff (da série Scrubs) e Joey King (vista em Batman Ressurge, 2012). E tratando-se de um filme de Raimi, não podiam faltar pontas de seu irmão, Ted Raimi, e de seu amigo de infância, Bruce Campbell.

O sucesso nas bilheterias pelo mundo tem sido maior que os executivos da Disney poderiam prever, apesar de ser o que torciam para acontecer. Foram US$ 80 milhões arrecadados na estreia na América do Norte, somados aos US$ 69.9 milhões de outros 46 países, o que dá um ótimo resultado. Mas os críticos andam bem desanimados, acusando o longa de sofrer de falta de criatividade, mágica, carisma, sensibilidade. As comparações, claro, não são muito justas, já que o original é amado pelo público há sete décadas, e o fato é que Oz tem muitos méritos. Raimi parece se inspirar no colega Tim Burton e lembra muito Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010), longa que ganhou Oscars nas categorias de Direção de Arte e Figurinos. O humor é bem ingênuo, o tom é de fábula e há conveniências apenas para fazer com que a história se resolva – a manipulação é palpável. Este é o grande defeito: a sensação de que tudo foi feito milimetricamente para casar com o longa de 39 e agradar. Pode não ser algo inovador ou espetacular, o que para muitos já é pecado o suficiente, mas não deixa de ser satisfatório. E, como bônus, ainda dá vontade de assistir ao original.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • A comparação com Alice é inevitável: ambos têm o mesmo designer de produção (Robert Stromberg). E concordo que os melhores personagens são os digitais, embora pareça ter sido o único a gostar de Mila Kunis como Duende Verde.

  • Marcelo, parabéns pelo site. Há muito queria ter deixado uma mensagem por aqui, mas, a falta de tempo realmente não permitiu. Hoje consegui!
    Parabéns pelos comentários, são muito bons mesmo e nos inspiram a assistir aos filmes . Quanto ao Oz, ainda não fui assistir, mas está no meus planos, sobretudo depois de saber que dá vontade de re-re-re-reassistir o original!
    Um abraço

    • Grande Pedro! Que bom ter notícias suas, ainda mais com uma visita ao Pipoqueiro!
      Volte sempre!
      Abraço!

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