Rebecca Hall vai para o mundo das apostas

por Marcelo Seabra

De um diretor que traz na bagagem longas memoráveis como Minha Adorável Lavanderia (My Beautiful Laundrette, 1985), Os Imorais (The Grifters, 1990) e Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000), entre vários outros, esperava-se mais, e Stephen Frears ficou apenas com O Dobro ou Nada (Lay the Favorite, 2011). O novo trabalho do diretor está aquém do que nos acostumamos a esperar dele, e ainda traz uma boa atriz mal escalada para o papel principal. Por que não arrumaram uma americana histriônica? Facilitaria a vida de todos, começando pelo público.

À frente do elenco, a inglesa Rebecca Hall (ao lado) faz o que pode como uma ianque carente e bobinha, que se apaixonaria pelo primeiro que a acolhesse. Vindo de trabalhos como Vicky Cristina Barcelona (2008), Atração Perigosa (The Town, 2010) e o suspense O Despertar (The Awakening, 2011), Rebecca foi uma escolha ruim e é até injusto com o talento dela. Talvez uma versão mais jovem de Jennifer Love Hewitt, que a atriz parece imitar, seria mais acertada. Bruce Willis deixa de lado seus papéis duros de matar (o quinto está em cartaz) e parece se divertir como o chefe da garota, casado com uma irreconhecível e desperdiçada Catherine Zeta-Jones, em participação pouco menos vergonhosa que o que vimos em Rock of Ages (2012). As duas, inclusive, precisam engolir o sotaque britânico e acabam ficando irritantes.

Além de Willis, outro que parece estar gostando da bobagem é Vince Vaughn, que busca sua persona exagerada de sempre para viver um apostador de Nova York que não tem o mínimo controle de sua “empresa” – ou de seu humor. O papel é pequeno, mas permite a Vaughn aparecer um pouco positivamente, no ano em que ele também estrelou o fraquinho Vizinhos Imediatos de 3º Grau (The Watch, 2012). Joshua Jackson, aproveitando a folga entre temporadas de Fringe, faz o cara bonzinho, aquele que só se lasca. E Laura Prepon, a eterna Donna do seriado That 70’s Show, mostra que está topando qualquer coisa após o final da meia temporada da ordinária Are You There, Chelsea? ao aceitar uma ponta em que ela ainda tira a roupa. Fim de carreira!

Parece, por O Dobro ou Nada, que o fato de ser baseado em uma história real já justifica a razão de ser do longa. O roteiro de D.V. DeVincentis, que co-escreveu o divertido Matador em Conflito (Grosse Point Blank, 1997) e também Alta Fidelidade, é inspirado no livro de memórias de Beth Raymer, a tal garota prodígio com números retratada, que fazia apostas legalizadas em Las Vegas. Não há emoção, os parcos conflitos são resolvidos quase que imediatamente e os atores parecem querer acabar logo com aquilo. Isso, sem falar que não sabemos que partes da história são de fato reais e o que foi colocado lá apenas para fins dramáticos.

Diretor e elenco prestigiam o Festival de Sundance 2012

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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