Bruce Willis continua duro de matar

por Marcelo Seabra

Cansado de destruir os Estados Unidos, John McClane foi à Rússia. Esta é a premissa de Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer (A Good Day to Die Hard, 2013), quinto longa da franquia protagonizada por Bruce Willis. Iniciada em 1988, ela acompanha o envelhecimento do ator e do personagem, que ainda assim aguenta o tranco e não deixa nada a dever aos mais jovens, apesar de abusar das piadinhas envolvendo idade. Como têm feito todos os atores de sua geração, como provam os dois Os Mercenários e O Último Desafio (The Last Stand, 2012).

A série Duro de Matar quase sempre manteve aventuras bem construídas e bastante ação. Já no primeiro longa, McClane se estabelece como um cowboy moderno que luta contra o mundo, se for preciso, e parece procurar confusão. Ou a confusão o encontra, como coloca um personagem. Ele já enfrentou um bando de ladrões em um prédio de Los Angeles, militares rebeldes que tomam um aeroporto, um maluco com planos de explodir Nova York e terroristas cibernéticos que pretendiam desestabilizar os Estados Unidos. Cansado disso tudo, dessa vez ele sai de férias. Isso, inclusive, leva a uma piadinha recorrente que acaba cansando. A nova aventura é bem genérica, com muitas situações exageradas que levam a crer que, quanto mais velho, mais indestrutível e irresponsável McClane fica, elevando o nível de explosões, colisões, brigas e tiros.

Por estar com tempo, McClane decide procurar o filho (Jai Courtney, de Jack Reacher, 2012), que desapareceu há anos – e agora parece ser um bom momento para encontrá-lo. McClane recebe a notícia de que Junior está preso na Rússia, aguardando julgamento. E, por estar de férias (ele não se cansa de lembrar-nos disso), decide ir lá. Obviamente, o filho tem muitos segredos e ele descobre tudo ao chegar ao país. Não sem antes ter que aguentar um russo cantando New York, New York, clichê que parece saído dos anos 80, assim como ouvir Garota de Ipanema no elevador. Se sozinho, o pai já causava problemas em penca, imagine com o filho. Mas é a experiência do pai que os tira das situações de risco. Claro que esse encontro também leva a momentos sentimentais pré-fabricados, colocados ali por acidente.

Fãs de cenas de ação não terão do que se queixar. O filme é bem movimentado e Willis está bem à vontade. Ele obviamente conhece bem o personagem, que parece estar num momento de equilíbrio em sua vida, e talvez por isso decida procurar o filho. Jai Courtney cumpre seu papel, parecendo uma versão mais jovem e forte de Cillian Murphy, porém faltando um bocado de carisma, que deve ter pulado uma geração na família McClane. Os intérpretes dos russos, Sebastian Koch (de Desconhecido, 2011) e Sergei Kolesnikov (de Almas à Venda, 2009), falam a língua, o que dá um pouco de credibilidade a seus personagens, com vários diálogos em russo. Mas não espere qualquer profundidade.

A franquia Duro de Matar nem sempre contou com diretores interessantes, tendo o competente John McTiernan em dois episódios (o primeiro e o terceiro) como contraponto ao picareta Renny Harlin (2) e ao mediano Len Wiseman (4). John Moore, o novo encarregado, traz no currículo Atrás das Linhas Inimigas (2001) e Max Payne (2008), o que não exatamente serve de cartão de visitas. O roteirista Skip Woods é outro que não inspira muita confiança, com o longa solo de Wolverine (2009) e Hitman – Assassino 47 (2007) na bagagem. No fim das contas, o diferencial segue sendo a presença de Bruce Willis e seu John McClane, como sempre.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

Recent Posts

Pacote séries novas – parte II

O Pipoqueiro traz comentários de mais quatro séries para você conhecer: Shrinking, Detetive Alex Cross,…

4 dias ago

Beatles ’64 mostra a invasão da banda nos EUA

Martin Scorsese recupera imagens de 1964 para mostrar como foi a chegada dos Beatles nos…

7 dias ago

Novas séries enchem a programação de streamings

O Pipoqueiro apresenta quatro novas séries exibidas em serviços de streaming, além de trazer um…

2 semanas ago

Celebre a carreira de John Williams com documentário

O Disney+ lançou Music by John Williams, documentário que O Pipoqueiro já conferiu e comenta…

1 mês ago

Halloween Especial 2024

O Pipoqueiro preparou um pacote de filmes de terror ou suspense para este Halloween e…

2 meses ago

Agatha e Pinguim representam disputa Marvel X DC

Confira o resultado de uma hipotética disputa entre DC e Marvel, já que ambas as…

3 meses ago

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!