por Marcelo Seabra

E a primeira piada da noite é sobre a falta da indicação a Melhor Diretor de Ben Affleck, disparada por Seth MacFarlane. Ele entrou às 22:30 no Dolby Theater com tiradas tão sem graça que foi necessária uma aparição do Capitão Kirk (William Shatner), direto do futuro, para melhorar as coisas. Um musical sobre as atrizes que mostraram os seios no Cinema começa o sem número de apresentações da noite, que é seguido por uma dança ao som de Sinatra. Isso já garante uma melhora a MacFarlane, que deixa de ser o pior apresentador da história do Oscar para ser apenas medíocre. Uma paródia de O Voo com fantoches e vamos a outro número musical curto. Outro esquete, dessa vez com MacFarlane de Noviça Voadora conversando com Sally Field, dá lugar a outro número musical e, agora sim, MacFarlane ganha uma nota melhor.

É então que a premiação começa. Octavia Spencer entra para anunciar o Melhor Ator Coadjuvante. Entre cinco indicados que já ganharam a estatueta careca, a distinção fica com Christoph Waltz (ao lado), de Django Livre. Melissa McCarthy e Paul Rudd seguem em momentos embaraçosos, e finalmente anunciam o Melhor Curta de Animação: Paperman. Em seguida, vem a Melhor Animação, Valente, da Disney. Uma pena, já que Detona Ralph tem diversas qualidades a mais. Detalhe que trilhas famosas de filmes são usadas entre as trocas de convidados, com a de Tubarão reservada para tirar do palco quem se excede no discurso de agradecimento.

Reese Witherspoon anuncia clipes de quatro filmes indicados e Os Vingadores (mais Sam Jackson) chamam a Melhor Fotografia: o chileno Cláudio Miranda (o Gandalf mais novo) ganha, por As Aventuras de Pi. Em seguida, Melhores Efeitos Visuais, e Pi leva mais um. Jennifer Aniston e Channing Tatum anunciam Melhor Figurino, que é Anna Karenina, belo longa de Joe Wright. Os Miseráveis leva o seu primeiro prêmio, de Melhor Maquiagem. Halle Berry entra para fazer uma merecida homenagem a James Bond, em seu aniversário de 50 anos. Seria essa uma pista para a Melhor Canção? Shirley Bassey (ao lado), intérprete de quatro temas do espião, entra e canta o primeiro e mais famoso: Goldfinger. Convenhamos que não foi das melhores interpretações já vistas, apesar de não ser uma Vanusa. Às vezes, a voz falha, e o tempo da voz nem sempre bate com a música, mas ela acaba em grande estilo e é longamente ovacionada.

Jamie Foxx e Kerry Washington sobem ao palco para chamar o Melhor Curta, e vence Curfew, do diretor Shawn Christensen. O Melhor Documentário – Curta vem a seguir, e o prêmio é para Inocente. MacFarlane aborta uma piada sobre o poderoso Harvey Weinstein e Liam Neeson chama mais clipes dos melhores filmes do ano. Ben Affleck, que tinha acabado de ser alvo de algumas piadas, entra para anunciar o Melhor Documentário em Longa Metragem, que é Searching for Sugar Man.

As belas Jessica Chastain e Jennifer Garner celebram a diversidade da categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira, que era a grande barbada da noite: Amor, de Michael Haneke. John Travolta apresenta uma homenagem a musicais e, depois da montagem de Chicago, entra Catherine Zeta-Jones com All That Jazz. A gritaria começa com Jennifer Hudson: hora de colocar a TV no mute. Hugh Jackman segue, com música de Os Miseráveis, e é acompanhado pelo elenco inteiro. O que é totalmente dispensável. Uns 15 minutos gastos à toa.

Coincidentemente, a primeira premiação pós-cantoria foi para Os Miseráveis: Melhor Mixagem de Som. E a próxima traz uma surpresa: deu empate para Edição de Som, com A Hora Mais Escura e 007 – Operação Skyfall. Uma piada com a família Von Trapp, de A Noviça Rebelde, e o próprio Capitão Von Trapp, Christopher Plummer, entra para premiar a Melhor Atriz Coadjuvante. Tudo indica Anne Hathaway (ao lado), e não dá outra, mas garanto que todos os comentários serão sobre o vestido, que ressalta uma parte do corpo dela. Chorosa, ela agradece a todo mundo, começando por Hugh Jackman. Ela sai com o tema de O Poderoso Chefão, que nunca falha em causar arrepios.

Sandra Bullock dá um Oscar para Argo, para o editor William Goldenberg. Adele, com seu vestido brilhante que se confunde com o fundo, entra e dá um show cantando Skyfall, do último 007. Outra leva de clipes de Melhor Filme, chamados por Nicole Kidman, e logo entram Kristen Stewart e Daniel Radcliffe. Premiam Lincoln, na categoria Melhor Design de Produção. Nesse momento, são divulgados os prêmios honorários entregues no Governor’s Ball, e os quatro agraciados recebem as palmas do público.

George Clooney, o novo Jack Nicholson (alvo das mesmas piadas), introduz a homenagem aos falecidos no ano passado. Grandes nomes não faltaram, como o escritor Ray Bradbury, os compositores Hal David, Adam Yauch e Marvin Hamlisch, os diretores Tony Scott, Nora Ephron e Frank Pierson, os atores Michael Clarke Duncan e Ernest Borgnine, entre outros. Barbra Streisand canta The Way We Were, de Hamlisch, para fechar o bloco. O elenco de Chicago, comemorando 10 anos, entrega o prêmio de Melhor Trilha Original, que fica com Mychael Danna, de As Aventuras de Pi. Outra aposta segura da noite vem, com Melhor Canção Original. Adele (ao lado) e Paul Epworth recebem pela primeira música de James Bond a ficar com o Oscar: Skyfall. Adele não segura o choro e Epworth faz as honras.

Enquanto não está fazendo piadinhas bestas, MacFarlane é bem eficiente como anfitrião, mas ele não para de tentar. Charlize Theron e Dustin Hoffman anunciam o Melhor Roteiro Adaptado. Fica com Argo, de Chris Terrio, baseado no livro do próprio personagem, Tony Mendez. E o Melhor Roteiro Original é de Quentin Tarantino: não foi indicado como diretor, mas levou como roteirista. Os premiados Michael Douglas e Jane Fonda se encarregam do Melhor Diretor. Não foi o que se esperava (Spielberg), mas foi feita justiça com Ang Lee, de Pi. Apesar de que justiça mesmo teria sido premiar Kathryn Bigelow, de A Hora Mais Escura, que nem indicada foi. O alvo do humor de MacFarlane vai melhorando, ele já brinca com a longa duração do evento.

A categoria Melhor Atriz abre o próximo bloco, e havia três possibilidades mais fortes: Emmanuelle Riva, Jessica Chastain e Jennifer Lawrence. Lawrence (ao lado) ganha – e cai, mas levanta rápido e ainda faz piada com o fato. E outra certeza: Daniel Day-Lewis  (abaixo) é o único ator com três prêmios na categoria principal, vencendo por Lincoln (além de Meu Pé Esquerdo e Sangue Negro). O páreo era duro, já que os colegas também estão muito bem, mas não havia dúvida. Jack Nicholson, outro oscarizado, entra para anunciar o Melhor Filme, mas passa a tarefa para a primeira-dama americana, Michelle Obama. Ela entra, direto da Casa Branca, cercada pelo staff presidencial, com elogios rasgados a todos os indicados, e Nicholson anuncia os nomes. Michelle finalmente revela o que muitos já esperavam: Argo é o Melhor Filme de 2012. O cara que fez Demolidor e foi altamente criticado por basicamente todo filme que fez como ator se consagra como a mente criativa por trás do campeão Argo, no qual foi o diretor e produtor.

Por algum motivo, depois de horas de enrolação, MacFarlane e Kristin Chenoweth ainda têm um número musical. Os créditos aparecem enquanto eles cantam para os perdedores, reforçando algo que há muito a Academia evitava: a ideia de que os outros quatro indicados tenham perdido. A música, Here’s to the Losers, teve a letra adaptada para a ocasião. MacFarlane consegue terminar com uma imagem boa, mas a plateia toda deve ter ido antes do número acabar. Boa noite!

Os produtores de Argo: George Clooney, Ben Affleck e Grant Heslov

PS: como curiosidade, acertei 20 das 24 categorias da noite. Os palpites foram publicados ontem e podem ser vistos no post anterior. Confira!

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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