por Marcelo Seabra
Para quem quer aproveitar o Carnaval para pegar um cinema, há boas dicas. Mas é bom tomar cuidado para evitar armadilhas. Seguem, abaixo, exemplos dos dois extremos.
Os zumbis estão novamente em alta, vide o sucesso da série The Walking Dead, e o diretor e roteirista Jonathan Levine (de 50%, de 2011) teve uma boa ideia: adaptar o livro Warm Bodies, de Isaac Marion, conhecido como a história de um amor zumbi. Com muito bom humor, o longa homônimo, que no Brasil ganhou o título ridículo Meu Namorado É um Zumbi (2013), brinca com a sua premissa e com clichês tanto de zumbis quanto de comédias românticas. O resultado pode ser visto como uma fábula sobre aceitar as diferenças do próximo, ou apenas como um filme divertido e bem feito.
Só se sabe o necessário sobre a história e os personagens, não é preciso ir muito longe. Através da narração do protagonista, descobrimos que algo aconteceu (uma doença, vírus, qualquer coisa) e boa parte da população virou zumbi – inclusive ele. Os humanos que sobraram cercaram a cidade com muros e se armaram, com o militar vivido por John Malkovich (de RED, 2010) à frente. Em uma investida para buscar remédios, um grupo de sobreviventes encontra uma horda de zumbis, dos quais já conhecemos um, identificado apenas como R (Nicholas Hoult, de X-Men: Primeira Classe, 2011), já que ele não se lembra do próprio nome. Depois da confusão, R acaba salvando uma garota (Teresa Palmer, de O Aprendiz de Feiticeiro, 2010), e ela começa a despertar nele algo há muito esquecido.
É interessante perceber que, mesmo entre os zumbis, há diferenciação e há tipos que assumem o papel de vilões, como acontece em qualquer sociedade. Levine aproveita essas figuras para homenagear outros longas, com menções óbvias a Eu, Robô (I, Robot, 2004) e Alien (1979). Claros que há alguns furos, como o fato de a energia elétrica e o combustível dos carros não ter acabado, mesmo tanto tempo depois de iniciada a evacuação do aeroporto. Mas a atuação de Hoult, o pequeno Marcus de Um Grande Garoto (About a Boy, 2002), é assustadora e doce na medida certa, e a mocinha de Teresa Palmer é o par perfeito para ele.
Sabe aquele filme que te deixa revoltado, de tão ruim? Quando nem o dinheiro do ingresso de volta te daria menos raiva, já que a hora e meia perdida nunca voltará? A melhor forma de definir esse Fogo Contra Fogo (Fire With Fire, 2012) é dizer que se trata de um filme do Nicolas Cage sem o Nicolas Cage. Um longa de ação genérico, com uma premissa absurda e um desenvolvimento ainda pior. O mais surpreendente é saber que, nos Estados Unidos, ele foi direto para homevideo, mas mereceu uma estreia nos cinemas brasileiros.
Olhando para o elenco, podemos pensar que o diretor deve ser um cara bem relacionado, com quem todos querem trabalhar. Mas David Barrett tem experiência apenas na TV, tendo comandado diversos episódios de séries, entre elas The Mentalist, Castle e Blue Bloods. Mesmo assim, conseguiu trazer a bordo Bruce Wilis (que em breve lança um novo Duro de Matar), Josh Duhamel (da franquia Transformers), Rosario Dawson (de Incontrolável, de 2010), Vincent D’Onofrio (de O Mafioso, 2011), Julian McMahon (o Doutor Destino do Quarteto Fantástico) e Vinnie Jones (também de O Mafioso, 2011), além dos rappers 50 Cent e Quinton “Rampage” Jackson. É, parando para analisar, não temos aqui nenhum grande talento. E o roteirista, Tom O’Connor, assina seu primeiro trabalho, e esperamos que seja o último, a não ser que melhore muito.
A história começa com um bombeiro (Duhamel) saindo para comemorar uma ação bem sucedida com os amigos, quando ele testemunha um assassinato e consegue fugir. Após concordar em servir como testemunha, ele passa a ser ameaçado pelo perigoso traficante (D’Onofrio – ao lado, com Willis) que ele vai ajudar a condenar. Mesmo no programa de proteção a testemunhas, Jeremy corre perigo e precisa contar com a ajuda do FBI (Rosario Dawson e Kevin Dunn) e do policial que está empenhado no caso, o Detetive Cella (Willis). Personagem incompetente e ator canastrão se fundem em McMahon, o assassino contratado, e o capanga da vez, de Vinnie Jones, tem uma das participações mais constrangedoras já vistas.
Duhamel não tem carisma ou condições de segurar um longa, e Willis aparece pouco, sempre no piloto automático, já que o papel não exige nada dele. O comportamento dos personagens, de uma forma geral, indica que eles acabaram de cair na Terra, ou então eles leram o roteiro e estão seguindo direitinho o que precisam fazer para que o filme chegue ao final. Só assim para explicar tantos chutes, conveniências e inconsistências. Poucos filmes recentes têm tanto potencial para arrancar comentários de incredulidade do público, tamanha é a ruindade deste Fogo Contra Fogo. E nem vale a pena gastar mais palavras com ele.
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