por Marcelo Seabra
A interpretação certeira de Denzel Washington é o principal atrativo de O Voo (Flight, 2012), mas não é o único. O ator está muito bem, e é ainda mais privilegiado por um roteiro bem amarrado e a direção competente de Robert Zemeckis, em seu primeiro projeto sem animação desde Náufrago (Cast Away, 2000). O filme começa com ação, com uma quase catástrofe, mas segue como um drama com um rico estudo de personagem, mostrando um homem que pensa estar no controle de sua vida, e não poderia estar mais longe disso.
A partir do momento em que é obrigado a fazer uma manobra quase impossível e salva a vida dos passageiros e tripulantes, ele ganha uma atenção indesejada que pode acabar revelando também o que não deve. A partir daí, começamos a conhecer melhor o personagem, e Washington cresce. Era necessário um ator como ele para trazer algumas características indispensáveis a Whip, que é um líder nato, bastante autoconfiante. Mesmo percebendo algo estranho, seus colegas não ousam acusá-lo ou levantar suspeitas. Recuperando-se do susto, Whip evita a mídia e conhece, no caminho, uma viciada em recuperação (Kelly Reilly, dos dois Sherlock Holmes).
Falando do roteiro, muita gente deve sair do cinema imaginando ser tratar de uma história real, que seria baseado no livro do sujeito. A credibilidade que Gatins passa é tanta que não parece ser um roteiro original. Na verdade, muito saiu das experiências do próprio roteirista, que já completa 20 anos de sobriedade. E ele ainda misturou outro medo seu (além de uma recaída): voar. E as cenas de voo são tão realistas (não necessariamente fisicamente possíveis)! Ele era um aspirante a ator que controlava sua ansiedade e falta de sucesso com abusos químicos. Foram 12 anos escrevendo o roteiro e exorcizando o passado. Tirando uma pequena derrapada no final, valeu a pena.
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