Aberta a temporada de Caça aos Gângsteres

por Marcelo Seabra

O que esperar de um filme sobre mafiosos americanos do fim dos anos 40? Jazz, policiais corruptos, preconceito racial, tiros e muita violência. Tudo isso compõe Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, 2013), longa inspirado pelo livro do jornalista Paul Lieberman. Ele relatou os fatos ligados ao combate ao reinado criminoso de Mickey Cohen em sete textos para o jornal Los Angeles Times, que acabaram reunidos em um volume. Muitos dos personagens realmente existiram, mas os acontecimentos não podem ser tão levados ao pé da letra, apenas dramatizando o que pode ter acontecido. Ou não.

Cohen cresceu em meio ao crime e se tornou um boxeador em Los Angeles. Depois de uma curta e mal sucedida carreira no circuito ilegal de lutas, ele começou a trabalhar para nomes mais famosos entre a criminalidade, entre eles Al Capone, e terminou auxiliando o gângster Bugsy Siegel, um dos construtores de Las Vegas. Quando seu mentor foi assassinado, Cohen assumiu os negócios e se tornou cada vez mais violento. Segundo as informações levantadas por Lieberman, foi formado um grupo de policiais que teria que agir fora da lei para conseguir desestabilizar os esquemas de Cohen, já que apenas matá-lo não resolveria – outro tomaria o lugar.

O longa começa quando o Sargento John O’Mara (Josh Brolin, de Homens de Preto III, 2012) é convocado pelo chefe de polícia (Nick Nolte, de Guerreiro, 2011) a reunir o tal esquadrão antigângsteres. Ele chamou a atenção por bater de frente contra colegas corruptos, todos no bolso de Cohen (vivido por Sean Penn, de A Árvore da Vida, 2011). Ele chama outros policiais honestos e durões e forma um grupo que, num primeiro momento, não surte efeito algum. Com o tempo, eles pegam o jeito e começam a atacar de forma mais organizada. O cínico Sargento Jerry Wooters (Ryan Gosling, de Drive, 2011) acaba entrando para o grupo, completando a formação.

Nos anos seguintes à Segunda Guerra, os combatentes que voltavam para casa ou estavam traumatizados, como vemos frequentemente em filmes, ou não sabiam bem o que fazer, como viver. Mais ou menos o que acontece com o protagonista de Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008), e é exatamente como se sente o Sgt. O’Mara. Josh Brolin acaba um pouco engessado pelo papel, já que o policial é bem quadrado, e deixa o foco para Gosling e Penn. Gosling repete a parceria com Emma Stone (de Amor a Toda Prova, 2011 – ao lado), que vive a garota de Cohen, e mostra um lado mulherengo e relaxado, de quem já acreditou no sistema. Penn, como um ex-boxeador, tem uma maquiagem pesada que o desfigura e ele aproveita para exercitar seu lado mau, abusando de frases de efeito (“Um policial honesto é como um cão raivoso – deve ser abatido”) e caretas. Ele acredita ser um tipo de deus, tamanho é o poder que alcançou.

Vindo de comédias como Zumbilândia (Zombieland, 2009, também com Emma), o diretor Ruben Fleischer mudou de gênero, mas seu estilo continua aparecendo – e lembra Zack Snyder também, com muitos usos de câmera lenta. Como é ambientado em décadas passadas, a estética remete a Watchmen (2009), e o diretor privilegia o estilo em detrimento de realismo. Um tiroteio com metralhadoras, por exemplo, está mais para uma dança do que para uma matança. E o roteiro de Will Beall (da série Castle) também não está preocupado em ser fiel aos fatos, inserindo personagens, mudando a função e a importância de outros e dando até um novo final à história. Os enquadramentos elegantes bebem na fonte dos clássicos de Hollywood, e ajuda ter uma reconstituição de época primorosa e a bela fotografia de Dion Bebe (de Miami Vice, 2009), que faz Los Angeles parecer o paraíso.

Para aficionados pelo gênero policial, é difícil não se lembrar das histórias de James Ellroy, autor que sempre fica nesse mundo corrupto da antiga LA. O clima se assemelha ao universo de LA – Cidade Proibida (LA Confidential, 1997), mas a recepção tem sido bem diferente. As críticas duras que Caça aos Gângsteres tem recebido mundo afora não se justificam, a maioria muito dura. A duração é apropriada, o filme é bem movimentado, alterna momentos engraçados e sangrentos e conta com uma produção detalhista e bem feita. O final é previsível, claro, mas a jornada é interessante o suficiente para valer o ingresso.

Parece que Sean Penn saiu de Dick Tracy, de tão deformado

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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